Os 12 corintianos detidos na penitenciária San Pedro, em Oruro, acusados de envolvimento na morte do jovem Kevin Douglas Beltrán Espada, de 14 anos, terão seu pedido de apelação julgado na tarde desta sexta-feira, no tribunal da cidade boliviana. Dependendo da análise das autoridades locais, os doze poderão responder às acusações em prisão domiciliar, aguardar o julgamento em liberdade, mas na Bolívia, ou até retornar ao Brasil.
Uma espécie de dossiê em prol dos torcedores presos foi montado pela defesa, com apoio da Embaixada do país na Bolívia e de Kaiser Araújo, cônsul brasileiro em La Paz. A intenção é provar à Corte de Justiça Superior que o responsável pelo disparo do sinalizador naval que matou Kevin foi H.A.M., menor que se apresentou à Vara da Infância e Juventude e confessou ter sido o autor na tragédia.
Corinthianos presos em Oruro terão apelação julgada nesta sexta-feira (Foto: Diego Ribeiro)
– Estamos com todo o material em mãos e vamos apresentar à justiça boliviana. Inicialmente, a intenção é que os torcedores sejam liberados desde já. Vamos em busca disso. Caso não consigamos, tentaremos ao menos a prisão domiciliar, algo que já melhoraria a situação deles – afirmou Kaiser Araújo, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.
O responsável por decretar a prisão preventiva dos corintianos foi o juiz Julio Huarachi Pozo. A Embaixada do Brasil na Bolívia se comprometeu a ajudar na procura por um imóvel, caso os torcedores conquistem o direito de prisão domiciliar, mas não bancá-lo. Como há mais detentos brasileiros em situação semelhante no país vizinho, o embaixador Marcel Fortuna Biato procura não ser desigual e tratar os alvinegros como exceção.
O advogado Miguel Blancourt, que representa os corintianos em Oruro, já havia demonstrado pessimismo em relação ao caso. Embora acredite que a apresentação do depoimento de H.A.M. ajude a acelerar o caso, ele afirmou que não pode garantir nada, uma vez que a justiça boliviana poderia apresentar resistência em aceitar a confissão como válida. Nesse contexto, as chances de os torcedores serem liberados seriam pequenas.
Inicialmente, a intenção é que os torcedores sejam liberados desde já. Vamos em busca disso"
Kaiser Araújo,
cônsul brasileiro
em La Paz
De acordo com inquérito policial boliviano, os torcedores Cleuter Barreto Barros, conhecido como "Manaus", e Leandro Silva de Oliveira, conhecido como "Soldado", foram os responsáveis principais pelo acionamento do artefato que atingiu o menino morto. Os outros respondem como cúmplices. Se forem liberados, todos os torcedores teriam de retornar à Bolívia cada vez que a justiça local solicitasse.
Na última semana, as seis torcidas organizadas do Corinthians se manifestaram em frente ao Consulado na Bolívia, na região da Avenida Paulista, em São Paulo, pedindo liberdade aos presos. O menor que se identificou como autor do disparo do sinalizador é sócio da Gaviões da Fiel, principal uniformizada do clube, e viajou a Oruro em caravana arquitetada pela torcida. Outro protesto foi marcado para a próxima terça, dia 12.
Embora H.A.M. não tenha revelado sua identidade, o cônsul Kaiser Araújo assegura que as imagens, originárias, inclusive, da TV Globo, comprovam que nenhum dos corintianos presos em Oruro estava envolvido na tragédia que matou Kevin.
– A defesa deixou claro que os torcedores merecem ser liberados. É complicado, há algumas burocracias envolvidas. As coisas não acontecem de uma hora para outra. As imagens apontam, com setas e aproximação, quem foi o responsável. Espero que fique claro e que a apelação seja válida – completou.
Além das complicações inerentes à justiça boliviana, uma greve geral em Oruro tornou a situação dos corintianos ainda mais difícil. O aeroporto de Oruro, antes chamado de Juan Mendoza, foi rebatizado pelo governo para Juan Evo Morales, nome do atual presidente, revoltando a população, que bloqueou ruas e provocou o fechamento de prédios públicos.
Corte Superior de Justiça de Oruro: torcedores esperam, ao menos, prisão domiciliar (Foto: Diego Ribeiro)
