domingo, 8 de julho de 2012

Ratinho revela que quase adulterou RG para jogar profissionalmente

Luciano Ratinho se emociona e chora ao anunciar o fim da carreira (Foto: Cleber Akamine / Globoesporte.com)Luciano Ratinho chorou ao falar sobre o fim da carreira (Foto: Cleber Akamine / Globoesporte.com)

Em menos de dois anos ele trocou os campos da várzea de Ribeirão Preto pelos gramados do Parque São Jorge. Luciano Ratinho, que iniciou a carreira profissional aos 19 anos, jamais imaginou que uma oportunidade nos juniores do Botafogo-SP pudesse levá-lo tão longe com um par de chuteiras nos pés. Não fosse a bola, a vida do ribeirão-pretano provavelmente ficaria nos canteiros de obra, auxiliando o pai na construção de tijolos.

A rápida ascensão, porém, aos olhos de quem viveu na pele, não foi ‘tão simples assim’. Tímido, Ratinho diz que não pensava em bola. Foi um empresário que o convenceu a fazer um teste na Portuguesa Santista, mas com uma condição: adulterar o ano de nascimento de 1979 para 1981.

Luciano Ratinho, ex-jogador do Botafogo-SP (Foto: Reprodução EPTV)Luciano Ratinho, com o troféu de vice-campeão
Paulista (Foto: Reprodução EPTV)

- O cara e me disse: 'Luciano. Se eu te arrumar um teste na Portuguesa Santista você vai? Mas só que é o seguinte. Vamos ter que fazer um gato (esquema). Você vai chegar lá, jogar, mas não vai poder mostrar os seus documentos ’ – contou Ratinho, que não quis revelar o nome do empresário. Inocente, Ratinho aceitou.

- Peguei duas bermudas, duas camisas e fui fazer o teste. Só que os moleques eram dois, três anos mais novo. Começou o treino e eu joguei pra caramba. Pedalei, arrebentei. No segundo treino eles perguntaram 'cadê seus documentos?'. Estava dentro da minha carteira, mas fiquei com medo e falei que estava em Ribeirão, no time amador – comentou o meia, aos risos.

No retorno a Ribeirão Preto, Ratinho procurou novamente o empresário. A proposta de adulteração de documentos, que parecia simples, passou a ter um valor: R$ 1.500,00. Pobre, Ratinho buscou a ajuda de amigos no meio futebolístico e, ao falar com pessoas ligadas ao Botafogo-SP, encontrou portas abertas.

Com 19 anos – idade limite para a categoria –, o técnico dos Juniores do Pantera na época, Carlos Guerra, logo avisou.

- ‘Ó, Luciano. Você já está no último ano de júnior (categoria), você vai ter que arrebentar. Se for igual aos que estão aqui, prefiro ficar com os que já estão porque eu conheço'. Tudo isso na frente do meu pai – declarou Ratinho que, no mesmo dia, construía uma nova amizade, dentro e fora de campo.

- Sabe quem foi fazer teste naquele dia? O Leandro. Eu já conhecia ele do amador, do Quintino (bairro da periferia de Ribeirão Preto). Nós dois jogamos juntos no ataque. Eu sabia que ele jogava bem e fiquei tranquilo – disse Ratinho.

Contra os titulares, que tinha Doni e Cicinho, Ratinho e Leandro sobraram no treino. Entre os reservas.

- Nós arrebentamos no treino. Passei pelo Cicinho e ouvi ele comentando: 'é, nesse campão (Santa Cruz) aqui, todo mundo joga'. No treino seguinte, foi no campo de baixo, que é ruim pra caramba. Lembro que teve uma hora que nós fizemos uma jogada e o Guerra falou assim: 'É isso que eu quero. Os moleques chegaram ontem e estão fazendo o que eu quero'.

A partir daí, Ratinho e Leandro passaram a integrar os juniores do Botafogo e, no ano seguinte, conquistaram o vice-campeonato paulista pelo Pantera.

Luciano Ratinho, ex-jogador do Botafogo-SP (Foto: Reprodução EPTV)Luciano Ratino: do futebol amador para os gramados do Santa Cruz (Foto: Reprodução EPTV)

Fim da carreira

Ratinho não quer jogar mais. A motivação, que outrora o levava aos gramados, já não existe mais. A decisão de pendurar as chuteiras estava tomada quando um convite do Botafogo o fez repensar. Só que o retorno durou apenas dois meses.

- Quando o Botafogo me ligou, eu animei. É o único time que eu torço. Tentei me motivar, acordar mais cedo, mas eu não estava muito feliz. Quando eu achei que daria, chegou uma pessoa da diretoria e disse o seguinte: 'você vai ter que arrebentar na Copinha para mim brigar para ficar no Campeonato Paulista'. Eu já estava meio desanimado e aquilo, para mim, foi o fim. Aí eu decidi parar – comentou Ratinho.

Corinthians

Luciano Ratinho acredita que não teve sorte no Corinthians.

- Quebrei o pé duas vezes. Fiquei muito tempo parado e não tive chance. Acabei pedindo ao Citadini que me liberasse para jogar no Juventude, já que eu não estava sendo aproveitado – comentou o meia, que lembra da pressão no time da capital paulista.

- Quando eu cheguei no Corinthians, não acreditava. É um time de massa, um time com muita cobrança. É diferente. Em todos os treinos tem imprensa te esperando para dar entrevista. Quando eu fui para o Juventude, acabava o treino, nem tinha imprensa. É muito diferente.

Futuro

Sem ostentar bens materiais, Ratinho leva uma vida simples em Ribeirão Preto. Longe dos gramados e sem a ambição de ingressar no mundo futebolístico, como técnico ou empresário, o ex-jogador pretende cuidar dos imóveis que adquiriu ao longo da carreira profissional – algumas casas e um salão de festa, em Ribeirão Preto.