Bruno Andrade
Marcelo Braga
Renato Rodrigues
Publicada em 29/06/2012 às 07:30
São Paulo (SP)
Paulinho rouba a bola de Riquelme e toca para Emerson, que gira e enfia para Romarinho. O jovem atacante, de 21 anos, recebe em velocidade e, com a frieza de um verdadeiro veterano, dá um toque sutil por cima do goleiro Orión para silenciar a temida Bombonera.
O emblemático lance que gerou o gol de empate do Corinthians com o Boca Juniors (ARG) na primeira final da Copa Santander Libertadores está na ponta de língua de todo corintiano. Mas e a história do frio Romarinho? Os torcedores estão curiosos para conhecer.
Natural de Palestina, a 500km de São Paulo, Romário Ricardo da Silva, assim como a grande maioria dos jogadores brasileiros, foi descoberto por um olheiro em um campinho de terra batida.
Enquanto os pais trabalhavam na lavoura, o garoto dava os primeiros chutes na bola. Aos sete anos, chamou a atenção do Vitória e mudou-se, sozinho, para Salvador. Mas a saudade da família bateu mais forte e, duas semanas depois, ele já estava de volta a Palestina.
Após um período de três anos treinando nas categorias de base do Rio Preto (SP), Romarinho, aos 10 anos, passou em um teste do São Paulo.
A timidez e humildade foram características marcantes na infância do atacante. Mas a passagem de dois anos pelo Tricolor trouxe à tona um sério problema com os estudos.
– Ele era muito humilde, tímido e não gostava de estudar. O São Paulo ajudou muito ele, mas o clube não teve muita paciência para lidar com essa questão dos estudos e acabou dispensando ele – lembra Herico Lima, funcionário público e primeiro treinador de Romarinho em Palestina, ao LANCENET!.
A dispensa não abalou o jogador, que seguiu em busca do sonho de tornar-se profissional. Antes de destacar-se no Bragantino e ganhar o título de revelação do último Paulistão, ele passou por outras três equipes paulistas: Rio Branco, Desportivo Brasil e São Bernardo.
Santista declarado, o atacante por pouco não foi contratado pelo Peixe. O presidente Luis Alvaro queria o empréstimo de graça, mas o Braga recusou. Foi aí, então, que o Corinthians entrou no caminho de Romarinho. E Romarinho entrou no caminho do Corinthians, Ou melhor dizendo, na história do clube.
CURIOSIDADES
Família
Após ser contratado pelo Corinthians, Romarinho trouxe os pais para morar em São Paulo. O pai Ronaldo, no entanto, não se adaptou à capital e já pretende retornar ao interior.
Irmãos no batente
Os irmãos de Romarinho seguem trabalhando em Palestina. Um trabalha com frentista e o outro é funcionário na Usina Colombo.
Apelidos
Romarinho se chama Romário Ricardo da Silva, mas o primeiro nome nada tem a ver com o Baixinho. O nome surgiu a junção dos nomes do pai Ronaldo e do avô Mário. No Desportivo Brasil (SP), ele também recebeu o apelido de Djavan (cantor).
CAUSOS DO GOL LIBERTADOR
Cornetada
Ontem, antes de voltar ao Brasil, Tite revelou o diálogo entre o auxiliar-técnico Mauro da Silva e Romarinho: Antes dele entrar, o Mauro disse para ele: "O cara vai te colocar no jogo". E ele respondeu: "Estou cansado de tomar porrada na Série B, que é duro pra caramba, aqui é mais fácil, tem mais espaço."
O precoce
O clima de alegria no vestiário do Corinthians não contagiou Romarinho. Além dos cumprimentos pelo gol feito na Bombonera, alguns jogadores brincaram com ele: “A gente se mata 90 minutos, você entra em campo e já faz gol em um minutos. Aí não dá...”, contou um atleta ao LANCENET!.
"Seu senti, coisa de momento"
Romarinho revelou na coletiva pós-jogo que, ao ser chamado por Tite, um companheiro falou que ele faria um gol. E o goleiro Julio Cesar confirmou ao LANCENET! que foi ele: "Foi uma coisa do momento, eu senti. Ele tinha feito dois gols contra o Palmeiras e senti que ele faria de novo."
Com a palavra - Herico Cardoso (Funcionário público e olheiro que descobriu Romarinho em Palestina)
"A Palestina explodiu com o gol de empate do Romarinho. Parecia que era jogo de Copa do Mundo, ninguém dormiu. A cidade estava mobilizada por ele. Todos adoram o garoto.
Apostei no Romarinho quando vi ele jogando em um campinho perto de casa. Ele tinha cinco anos e me chamou a atenção.
Com o tempo, lapidei o Romarinho e percebi que ele seria um grande jogador. Ele pode ser tímido e frio, mas é atrevido dentro de campo. Os craques são assim. O moleque é predestinado mesmo."
Bate-bola - Zé Sérgio (Ex-treinador das categorias de base do São Paulo)
LANCENET!: Se recorda da passagem do Romarinho pela base do São Paulo?
Zé Sérgio: Ele passou pelo sub-15. O Romarinho chegou a treinar com meu filho lá no CT de Barueri. Fiquei na dúvida se era ele mesmo. Reconheci quando estava no Bragantino.
LNET!: Por que ele não ficou no clube?
ZS: Acho que saiu por comportamento ou tamanho. Ele era bem pequeno. Mas ouvi muito que ele era um menino bem complicado. Todo mundo falava que não tinha jeito.
LNET!: Mas que tipo de coisas ele aprontava para ser taxado assim?
ZS: Era meio malandro no jeito de ser. Não queria saber de estudar. Na concentração, fazia muita bagunça. Se juntava com uma turminha e aprontava. Até arrumava confusão com os mais velhos.
LNET!: No campo se destacava?
ZS: Vi pouco jogando. Mas ele não tinha essa dinâmica de agora. Era bem preguiçoso para fazer as coisas e era mais armador, cadenciava o jogo. Hoje ele é atacante e tem mais velocidade. Ele também era meio gordinho, pesado em campo. Hoje dá para ver que ele amadureceu muito. Acompanho seus jogos.