sábado, 8 de dezembro de 2012

Prêmio da Fifa 'revela' escassez de craques no meio-campo do Brasil

Os jogadores de defesa do Brasil estão em alta na Fifa. Quatro deles estão na pré-lista de 20 atletas do setor da seleção do ano, divulgada em novembro, pela entidade máxima do futebol: os zagueiros David Luiz e Thiago Silva e os laterais Daniel Alves e Marcelo. No ataque, apenas Neymar figurou entre os 15 candidatos. Já no meio-campo, nenhum brasileiro foi selecionado: fato inédito entre as sete edições realizadas até hoje.

O panorama acima levanta uma discussão: será que o país vive escassez em relação ao setor criativo? O SporTV News consultou quatro profissionais – Carlos Alberto Parreira, Zagallo, Gonçalves e Oswaldo de Olivieira – para descobrir o que mudou desde 2008, quando Kaká, do Real Madrid, figurou na seleção final de 11 jogadores eleitos e foi o último representante brasileiro no meio-campo. Anteriormente, o mesmo jogador marcou presença na seleção do ano de 2006 e 2007. Em 2005, quando começou a premiação, Ronaldinho Gaúcho representou o Brasil.

- Quando chega uma eleição, seja da Fifa, da Uefa, e não tem tanto protagonismo como tinha anteriormente, temos que analisar: o que aconteceu, onde foi que erramos? É importante, porque é um sinal, um alarme. Acendeu a “luzinha” amarela, vamos olhar, nao é achar que estamos no fundo do poço, absolutamente, nós continuamos produzindo jogadores, e é importante que eles brilhem – analisa Parreira, coordenador técnico da seleção brasileira.

Para o técnico do Botafogo, Oswaldo de Olivieira, o destaque entre diferentes posições é um fenômeno cíclico. Para ele, que atua como treinador desde a década de 80, é natural a falta de atletas em destaque no meio-campo.

- Se você observar ao longo dos anos, você vai chegar à conclusão de que em algumas fases a gente falou "Não tem atacante", hoje não temos mais um 10, um meia organizador, isso acontece muito em determinados momentos – diz o treinador.

Carlos Alberto Parreira no Footecon (Foto: Reprodução/SporTV)Parreira defende análise sobre escassez de meias
(Foto: Reprodução/SporTV)

Nas escolinhas de futebol espalhadas pelo Brasil, a disputa é um pouco diferente. Os meninos que querem ser zagueiros ainda estão em menor número. Empreendedor do ramo, o ex-zagueiro Gonçalves, campeão brasileiro em 1995 com o Botafogo, afirma que a busca pela frente do campo é uma tendência histórica. O que não necessariamente se traduz, segundo ele, na produção de melhores jogadores nesta parte do gramado.

- Quando eles chegam na escolinha, com 5 anos de idade, é dificil que algum deles queira jogar na zaga, até porque o atacante é o mais famoso, é o que faz o gol é o mais conhecido – afirma.

O próprio filho de Gonçalves, Matheus, de 14 anos, joga na escolinha do pai e prefere finalizar a defender.

- Até dois anos atrás ele só queria jogar de atacante, inclusive pedia para eu demitir o treinador, que durante as competições não o colocava para jogar de atacante – diz o ex-zagueiro.

Zagallo entrevista tv tribuna (Foto: Reprodução / TVTribuna)Zagallo alerta para a concorrência
(Foto: Reprodução / TVTribuna)

São as escolinhas e divisões de base que possuem função essencial na definição da posição de um jogador, de acordo com as suas características. Na análise do tetracampeão mudial Jorge Lobo Zagallo, a falta de brasileiros no meio-campo é consequência da grande concorrência mundial no setor.

- Ninguém vai transformar um jogador, se ele não é atacante, em zagueiro, ou vice-versa. Mas aqueles que têm condições estão aparecendo. O Neymar está aparecendo, o Lucas está aparecendo, e têm jogadores que ainda poderão jogar na seleção – afirma o Velho Lobo.

A seleção mundial de 2012 terá os seus 11 nomes revelados no dia 7 de janeiro, na cerimônia de gala da Bola de Ouro Fifa. Em 2011, o lateral-direito Daniel Alves, do Barcelona, marcou presença no time ilustre, mas como defensor - Kaká foi indicado, mas não ganhou a vaga. A escolha é feita a partir de uma votação entre os cerca de 50 mil profissionais que pertencem aos sindicatos que integram a Federação Internacional de Futebolistas Profissionais.