sábado, 8 de dezembro de 2012

'Campeão' em 2000, David Luiz alerta Chelsea para mística do Corinthians

david luiz, Nordsjaelland e chelsea (Foto: Getty Images)David Luiz comemora gol contra o Nordsjaelland
pela Champions (Foto: Getty Images)

Hoje, aos 25 anos, David Luiz é um dos líderes do Chelsea que buscará o título do Mundial de Clubes da Fifa. Mas, em 2000, quando estava perto de completar 13, era apenas um menino corintiano torcendo pelo Timão na final do Mundial contra o Vasco. Longe do Maracanã, viu o jogo pela televisão e aprendeu uma lição ouvindo o grito da Fiel: nunca duvide da mística do Corinthians. Esse é o recado que o zagueiro dará aos seus companheiros caso os Blues tenham Tite & cia. pela frente na final do dia 16, em Yokohama.

- O grande perigo do Corinthians sempre vai ser o coração que se bota em campo quando se joga por esse clube. É uma característica implantada ao longo dos anos. Quem não correr, não der bico, não se entregar, não pode jogar no Corinthians. Para mim, esse é o grande diferencial sempre - disse David Luiz, ainda em Londres, ao GLOBOESPORTE.COM.

Ao longo dos últimos meses, o Chelsea foi bombardeado de questionamentos sobre quão a sério encarava o Mundial. As respostas quase sempre foram as mesmas: “É importante, mas temos outros compromissos pela frente”. O último deles acontece neste sábado, às 13h (de Brasília), contra o Sunderland. Assim que acabar a partida, direto do Stadium of Light, a delegação azul embarca para o Japão. Mas os Blues evitam falar de Corinthians. Agora, a cabeça está na semifinal, quinta-feira, em Yokohama, contra o vencedor do confronto deste domingo, entre Ulsan, da Coreia, e Al Ahly, do Egito.

Corintiano na infância, David Luiz recordou a tarde de 14 de janeiro de 2000, quando, no interior de Minas Gerais, vibrou com o titulo de campeão mundial pela primeira vez. Não se privou de falar sobre o clube brasileiro, mas a todo momento fez questão de fugir dos prognósticos e frisar: o confronto esperado por todos no dia 16 de dezembro é apenas uma possibilidade.

- Acho que no Brasil fala-se muito do jogo que é apenas uma possibilidade. Ainda não tem nada certo. Pode acontecer ou não. Tenho certeza que os jogos no Japão vão ser difíceis, decididos em detalhes. São grandes equipes. Por isso, estão no Mundial.

No bate-papo com o GLOBOESPORTE.COM, o jogador dos Blues e da seleção brasileira falou da expectativa para competição no Japão, relembrou os tempos de torcedor do Timão, falou do processo de adaptação ao novo treinador Rafa Benítez e surpreendeu ao apontar o que mais o preocupa caso as previsões do confronto com os brasileiros de confirme: a mística corintiana e a força da Fiel.

Durante os últimos meses, questionou-se muito no Brasil até que ponto o Mundial de Clubes era importante para o Chelsea. Por outro lado, vocês tiveram muitos jogos nesse período. É mesmo menos importante ou o calendário europeu faz com que pareça assim?

Tudo ao seu tempo. Estamos esperando o Mundial da mesma forma que o Corinthians, com ansiedade e vontade de jogar, mas sempre soubemos que estavam acontecendo muitas outras coisas também importantes para o nosso ano, como Champions e Premier League. Estávamos defendendo um título e o campeonato nacional já tem anos que o clube não ganha. Tratamos todo e qualquer tipo de jogo com muito valor, e assim vai ser também quando chegar o Mundial. Vamos querer ganhar a todo custo.

David Luiz e Terry treino Chelsea (Foto: Reprodução / Twitter)David Luiz e Terry no Chelsea: capitão está fora do Mundial de Clubes da Fifa (Foto: Reprodução / Twitter)

Há quem acredite que todos os problemas que aconteceram recentemente com o Chelsea, com a equipe não jogando bem, troca de treinador, lesões, torna o cenário favorável ao Corinthians. Até que ponto isso atrapalhou mesmo vocês ou todas as mudanças podem ser determinantes exatamente para uma melhora no Mundial?

Se acontecer como foi no ano passado, eles deveriam ficar preocupados (risos). Mudamos e ganhamos tudo. Claro que quando se muda é porque alguma coisa não está andando bem, não está acontecendo da maneira esperada. Os times que estão vendo isso vão procurar olhar pelo lado positivo, lógico. Até porque, se não for assim não estariam torcendo para si próprios, não dá para eles pensarem que o adversário vai ganhar tudo. É natural. Acho que no Brasil fala-se muito do confronto que é apenas uma possibilidade de jogo. Ainda não tem nada certo. Pode acontecer ou não. Tenho certeza que os jogos no Japão vão ser difíceis, decididos em detalhes. São grandes equipes. Por isso, estão no Mundial.

Tudo isso pode acabar sendo bom para o Chelsea, já que divide a responsabilidade? Não há tanta aquela expectativa de o europeu como favorito absoluto, como em outras oportunidades?

Acho que todo mundo está com o mesmo intuito, pensamento e gana de vencer o Mundial. Não é algo que interfira tanto.

Entre vocês, como foi a relação com a competição nesse processo de preparação? O pessoal conversava, perguntava, ou era algo mais entre os brasileiros?

Paulinho treino Corinthians (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Companheiro de David na Seleção, Paulinho é um
dos pontos fortes do Corinthians: 'Kinder Ovo', brinca
o zagueiro (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)

Alguns falam, introduzem o assunto, até por já estar bem próximo. Mas todos os brasileiros aprenderam a ver o Mundial de uma forma diferente, como último jogo do ano, a cereja do bolo. Você trabalha, trabalha, faz o bolo, coloca a vela da idade e no fim entra a cereja para completar. O pessoal que vem de outros países e está acostumado com o calendário europeu nessa época ainda está fazendo um bolo para Premier League, outro para Champions, então não dá para interferir tanto antes do tempo. Eles perguntaram qual brasileiro ia jogar, se o time era evoluído taticamente... E eu digo que sim. Acho que é muito, é um dos mais inteligentes do Brasil no momento. O Tite está fazendo um grande trabalho. Já vimos o Corinthians sem atacante, alguns jogos com um falso 9, depois com duas linhas de quatro. São coisas que não eram comuns no Brasil. E há ainda os outros times. É aquela frase, não há mais bobo mesmo. Todo mundo sabe o que fazer em campo.

Você elogiou a parte tática do Corinthians. Qual seria o maior perigo do time?

O grande perigo do Corinthians sempre vai ser o coração que se bota em campo quando se joga por esse clube. É uma característica implantada ao longo dos anos. Quem não correr, não der bico, não se entregar, não pode jogar no Corinthians. Para mim, esse é o grande diferencial sempre. Lógico que há grandes jogadores como Paulinho, Sheik... Chamo até o Paulinho de volante “Kinder Ovo”, sempre tem uma surpresa. O Fábio (Santos) também é perigoso. Enfim, todo time sempre tem um ponto forte. Mas acho que o diferencial é esse que falei, juntamente com a torcida, que é maravilhosa e vai em peso.

A expectativa é de que o Japão receba um número de corintianos 20 vezes maior do que torcedores do Chelsea. Isso interfere em campo?

O Chelsea está acostumado. Se acontecer mesmo esse jogo, tenho certeza que vai ter muito corintiano, mas estamos acostumados. Acredito que vai ter muito torcedor de lá da Ásia nos apoiando. Vai ser um lindo espetáculo. Se acontecer mesmo a final entre essas duas equipes, quem vai ganhar muito com isso é o Brasil, com tantos representantes em uma final de Mundial.

Para você, que jogou apenas uma temporada no Brasil e na Terceira Divisão, poder enfrentar o Corinthians, o clube que você torcia, é uma ocasião especial?

Ramires David Luiz Chelsea (Foto: Getty Images)Ramires e David Luiz: dois dos brasileiros do
Chelsea (Foto: Getty Images)

Se acontecer, vai ser diferente, legal. Ficaria feliz em ver um time brasileiro na final, não sou hipócrita. Nosso país é quem ganha com isso. Penso muito nessa questão. Na final da Champions, por exemplo, a vontade de jogar foi maior por eu saber que seria o único brasileiro com chances de entrar em campo. Aconteceu tudo para os outros não jogarem e eu pensei: “Tem que ter alguém do Brasil em campo”. Isso me deixa feliz de verdade. Mas a partir do momento que começa o jogo, defendo o Chelsea a todo custo.

Suas lembranças do Mundial de Clubes são muito fortes? Por ter sido corintiano quando jovem, a final de 2000 foi algo que marcou?

Lembro muito desse Mundial. Do jogo contra o Real Madrid, da caneta do Edilson no Karembeu. Lembro do Brasileirão anterior, decidido contra o Atlético-MG em três jogos. Não era muito de ir ao estádio, até por ter saído cedo de casa, aos 14 anos. Em 2000, eu assisti ao Mundial em Minas Gerais, na casa da minha família. Sempre ia para casa dos meus avós nas férias e ficava por lá.

Então, você pode falar que já foi campeão do mundo como torcedor do Corinthians e agora pode ter esse título de novo justamente sobre o Corinthians?

(Risos) São coisas da vida, coisas do destino e que só tornam os momentos mais especiais e bacanas de viver. O bom é poder desfrutar, entender o propósito de tudo que Deus apresenta para gente e tentar viver intensamente.

Por fim, você reforçou muitas vezes a questão do confronto com o Corinthians ainda ser apenas uma possibilidade. Os exemplos do Inter, contra o Mazembe e até mesmo de quando venceu o Barcelona quando ninguém esperava, servem de alerta para todo mundo que já conta com essa final?

É apenas uma possibilidade. Essa é uma verdade. E não é uma verdade da boca para fora. É 100% apenas uma possibilidade. Há outras grandes equipes que se prepararam, sonham com isso ao longo dos anos, esperam do mesmo jeito, vão entrar em campo com o mesmo pensamento. Então, é importante estar ciente do que vamos enfrentar. Teremos uma semifinal muito muito difícil e uma final mais ainda, apesar de não saber contra quem. O que é importante ter em mente é isso.