sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ídolo no Peru, Guerrero 'encerra piada' ao se aproximar do topo com o Timão

Marcelo Braga - 14/12/2012 - 11:15 São Paulo (SP)

Gol do Guerrero - Al Ahly x Corinthins (Foto: Toshifumi Kitamura/AFP)
Guerrero marcou o único gol do Timão contra o Al Ahly (Foto: Toshifumi Kitamura/AFP)

Era 5h59 em Lima, na capital do Peru, quando Guerrero marcou o único gol do Corinthians na semifinal do Mundial. Com três horas a menos em relação ao horário de Brasília, o fuso não impediu que os peruanos vissem seu compatriota vibrando ao fazer a alegria de outra nação. A corintiana.

Maior ídolo do futebol do país na atualidade, o camisa 9 do Timão é a esperança daqueles que sonham em retornar a uma Copa do Mundo, feito que não ocorre há 20 anos. Com clubes sem força perante o nível sul-americano, admitem que a única forma de comemorar um título desse porte é “adotando” times que contem com representantes do país. Como foi com Martín Hidalgo, em 2006, campeão pelo Inter.

– Um título mundial para um peruano é muito. Para mim, foi a melhor coisa da minha vida. Até hoje desfruto da conquista. Para mim é tudo, ficou para toda a vida – disse ao LANCE!Net o lateral-esquerdo, que atuou nessa temporada pelo Cienciano.

E MAIS:
Guerrero, sobre final contra o Chelsea: 'Temos de jogar pra c...'

Hoje, aos 36 anos, só tem uma lamentação do torneio: a lesão muscular que o tirou da final contra o Barcelona, após ser titular contra o mesmo Al Ahly (EGI) e vencer. Risco que Guerrero, por uma lesão no joelho direito sofrida contra o São Paulo, na despedida do Brasileirão, também correu. A cabeçada letal porém, foi a redenção para os dias de tratamento médico intenso.

Glória enorme para o atacante que, aos 17 anos, em 2001, partiu para a Europa sem nem estrear pelo Alianza Lima – jogou só um amistoso. Sem espaço com o técnico Franco Navarro, um dia comunicou a ele que estava se transferindo para o Bayern de Munique (ALE). E ouviu a provocação que o marcou:

– Bayern? Será que não é aquele Bayer onde se prepara baygon para se matar baratas? – disse, irônico.

Guerrero foi, venceu na Alemanha, virou estrela no seu país e, aos 28 anos, abriu o caminho com o gol contra os egípcios para a idolatria da Fiel. As baratas que se cuidem.

Paolo Guerrero com sede de Taça

OS OUTROS PERUANOS CAMPEÕES DO MUNDO

Juan Joya
O ponta, nascido em 25/2/1934 e morto em 29/3/2007, é considerado um dos maiores jogadores da história do país. Foi dele o último gol de um peruano em uma disputa intercontinental, em 1961. Pelo Peñarol (URU), fez dois gols na vitória por 5 a 1 contra o Benfica (POR).

José Pereda
O volante, nascido em 8/9/1973, foi campeão intercontinental com o Boca Juniors em 2000, com Carlos Biachi, no time que tinha Riquelme e companhia.

Cláudio Pizarro
O atacante de 34 anos, nascido em 3/10/1978, foi campeão intercontinental pelo Bayern Munique (ALE) – onde ainda joga – em 2001, contra o Boca Juniors. Também é apontado como um dos grandes ídolos do futebol peruano.

Roberto Palacios
Não ganhou o Intercontinental, mas disputou pelo Cruzeiro, em 1997. Aos 39 anos, o meia ainda joga, pelo Sporting Cristal. A Raposa perdeu o título para o Borussia Dortmund, da Alemanha.

BATE-BOLA - MARTÍN HIDALGO
(Lateral-esquerdo peruano, foi campeão mundial com o Internacional em 2006)


LANCE!Net: Guerrero é o principal nome do futebol peruano na atualidade?
Martín Hidalgo: Sim, temos de falar a verdade. Ele ganhou muita coisa para o Peru com a Seleção. O nome dele é muito forte: Guerrero! Tem muita força e sangue. Espero que faça a mesma coisa no Corinthians. A seleção precisa dele, é importante que esteja bem. Move muita coisa no país. Ficamos de olho nele. Que dê seu melhor. Todo o Peru está ligado.

L!Net: Falando do Mundial. Como o Internacional venceu o Barcelona?
MH: Era um time muito bom, tinha grandes jogadores e o Abel (Braga) era muito ligado. O time era muito junto, todos tinham certeza do que queriam, embora muita gente não acreditasse. Tivemos força e emoção para trazer o título. Infelizmente, me machuquei no primeiro jogo, fiz toda a força para jogar, até o aquecimento no vestiário, mas tinha muita dor e o Abel e os médicos acharam melhor que eu me afastasse, porque não ia estar 100%. Torci muito, foi show. Para mim, peruano, foi muita coisa.

L!Net: E torceu do banco de reservas...
MH:Muito, fiquei fazendo gelo na coxa. Tive uma lesão de nove milímetros, coisa grande. Estava muito nervoso, nunca fiquei tanto na vida. Quando você é titular, a bola rola e você esquece, mas fora é muita tensão. Foi impressionante. Sofri mais que meus companheiros que jogaram.

L!Net: E a festa no Peru?
MH:Antes, voltamos a Porto Alegre e foi impressionante ser recebido como fomos no aeroporto. Não tem palavras, foi muito legal. E no Peru também tinha muita gente ligada. Vi muita gente com a camisa do Internacional, isso foi muito legal.

L!Net: Hoje, por Guerrero, os peruanos vestirão a camisa do Corinthians?
MH:Acho que sim, é o peruano que está jogando. Vou ser o primeiro a torcer. Seis anos depois do meu título.

COM A PALAVRA
Bruno Ortiz Jaime (Repórter do jornal “Líbero”, do Peru)

Hoje, o Peru é parte da nação corintiana

"Para o povo peruano, pouco acostumado a proezas esportivas de seus clubes e seleção, a grande atuação de Guerrero pelo Corinthians é um fato sem precedentes. Tiveram de passar 51 anos para que um peruano voltasse a fazer gol em uma disputa intercontinental de clubes – o último foi Joya (veja acima). Por isso, os jovens estão muito emocionados por ver seu ídolo contra um campeão da Europa, como o Chelsea. É uma experiência que só era possível pelo Playstation. Hoje, pelas ruas de Lima, se vê muita gente com a camisa do Corinthians.

Para Paolo Guerrero, é um justo prêmio por sua categoria internacional. Ele precisava jogar em um time com o estilo do Corinthians para demonstrar que é um dos melhores atacantes da América. O Hamburgo era um quadro caído na mediocridade. Além disso, os peruanos se sentem identificados com o clube, por Brasil e Peru terem estilo de jogo similar, e pelo Timão representar a América. Paolo está seguro de que ir ao Brasil foi a melhor decisão. E, nesses dias, o Peru é parte da nação corintiana."