terça-feira, 5 de março de 2013

Versão de menor não convence pais de Kevin: 'Para ser sincero, não creio'

Sentados no cemitério onde o filho foi enterrado, os pais de Kevin Douglas Beltrán Espada lembram do menino, de 14 anos, morto após ser atingido por um sinalizador e, enquanto tentam se acostumar com a ausência, alimentam o desejo de justiça. O pai, Limbert Beltrán, não esconde o arrependimento por ter deixado o menino ir ao jogo do San José contra o Corinthians. Sem a chance de ter o filho de volta, ele espera ver os responsáveis punidos e revela não acreditar na versão do corintiano de 17 anos que assumiu ter disparado o artefato (assista ao vídeo). 

- Escutei e vi parte desta entrevista, mas, para ser sincero, não creio. Acho que é simplesmente algo preparado. Inclusive, na confissão que ele faz, se nota que ele decorou o diálogo, sabe o que vai dizer, não está com dúvidas, não está nervoso, nada. Aí me vem a cabeça as duas leis que dizem que se você tem 17 anos não se pode colocar na prisão, não se pode extraditar. E o que se correponderia, se é que é ele, é simplesmente um trabalho de serviço social. Então, tudo isso me leva a pensar que é uma estratégia, algo que eles prepararam para tentar liberar os 12 que aqui são maiores - disse, se referindo aos torcedores indiciados pelo crime e presos na Bolívia desde 20 de fevereiro, data da tragédia.

Pais de Kevin Espada, Carola Beltrán Espada e Limbert Beltrán (Foto: Reprodução SporTV)Pais de Kevin, Carola e Limbert Beltrán, querem justiça pela morte do filho (Foto: Reprodução SporTV)

Cinco dias depois, o menor H. A. M., de 17 anos, se apresentou na Vara da Infância e da Juventude, em Guarulhos, para assumir a autoria do disparo do sinalizador. No dia anterior, ele havia contado sua versão em entrevista ao "Fastástico" e disse não ter assumido tudo na Bolívia por recomendação de outros integrantes da torcida Gaviões da Fiel. As declarações não convenceram o pai de Kevin.

- Me pergunto: se verdadeiramente é ele e está arrependido, por que não vem mostrar  a cara aqui, por que não confessa? Eu penso que se ele confessar a justiça aqui vai ser benevolente com ele, mas que venha aqui, porque o crime foi feito aqui, não no Brasil - afirmou.

Limbert Beltrán e a esposa Carola Beltrás Espada ainda parecem perdidos, tentando recomeçar após a perda do menino. Quando pensam na forma como o filho morreu, além de pedirem justiça, eles esperam que o caso sirva de alerta.

- Sei que é dificil que eu leve uma causa contra 12 pessoas, mas vou tentar. Porque tem que parar. Era um menino que não saía de casa, acabava de começar a dar seus primeiros passos de adolescente, estava começando a ir a festas, ter uma namorada, apenas começava a ter sua vida de jovem. Que tenha ido a um jogo e lhe tiraram a vida não é justo - considerou o pai.

Arrependido de ter permitido ao filho que fosse ao jogo, Limbert revelou que não consegue deixar de se culpar e não apaga a lembrança do dia seguinte à partida, quando se deparou com o corpo do filho.

- Fomos até o necrotério do Hospital Obrero e vimos meu filho ali, deitado, ainda com o maldito artefato em seu olhinho. A verdade é que não desejo isso a ninguém. Ainda não pudemos assimilar. É muito forte (...) não pensava que ao dar um beijo na manhã e lhe dar sua passagem, o dinheiro para a entrada, estava me despedindo, que já não ia voltar a vê-lo - lamentou.

A mãe espera que outras famílias não passem pelo mesmo sofrimento.

Túmulo de Kevin Espada, torcedor boliviano morto ao ser atingido por sinalizador (Foto: Reprodução SporTV)Kevin Espada foi enterrado em Cochabamba, cidade
onde o menino morava (Foto: Reprodução SporTV)

- Espero que mude em nível nacional e internacional para que isso que aconteceu não volte a ocorrer porque machuca. Machuca a família, machuca uma pessoa que é inocente. Espero que, a partir de agora, tomem os cuidados pertinentes para que isso não volte a acontecer.

O pai concorda. Em um depoimento emocionado, ele disse que o desejo é que sirva de lição para todos, mas especialmente os torcedores do Corinthians que levaram sinalizadores ao estádio.

- Como minha esposa disse, não vão me devolver (o filho), mas que aprendam. É o que eu quero. E creio que já estão aprendendo, os que estão presos. Talvez a justiça os vá liberar, mas, nestes dias, sei que estão aprendendo. As familias deles que me desculpem, sei que também estou causando dor nessas famílias, mas que eles se coloquem nesta situação, que nos entendam. Eles pelo menos vão vê-los, eu nunca mais vou ver meu filho - desabafou.

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