quarta-feira, 13 de março de 2013

Júnior Negão diz que seleção não é mais tão forte: 'Paramos no tempo'

O Brasil não vai mais ganhar fácil. Paramos no tempo. Nunca fizemos uma renovação"

Júnior Negão, técnico do Brasil

Recuperar a alegria e o espírito ofensivo, mesclando juventude e experiência, em busca de uma das três vagas para a Copa do Mundo de futebol de areia, que será realizada entre os dias 18 e 28 de setembro no Taiti. Essas eram as principais metas da seleção brasileira no início do ano. Uma das estratégias no processo de preparação é estimular a concorrência entre os jogadores. Júnior Negão já deu um exemplo da linha de trabalho no mês de janeiro, depois de assumir o comando da seleção e convocar mais de 30 atletas. Apesar da evolução, o técnico destaca que o Brasil precisa se adaptar a uma nova realidade. Ao contrário de antigamente, quando Negão atuava dentro de quadra, o time canarinho "não é mais tão espetacular" e terá que aprender a superar obstáculos pelo caminho. Ao lado de Junior, Zico, Edinho e Magal, Negão marcou a "época de ouro" do futebol de areia, uma geração valiosa e pioneira, que dominava o circuito mundial.

- O Brasil não vai mais ganhar fácil, temos que nos acostumar com a dificuldade. Aquela tranquilidade não existe mais. Paramos no tempo. Nunca fizemos uma renovação. Após o título mundial de 2009, o time já estava envelhecendo. Havia um grupinho fechado de 12 jogadores, o que inviabilizou a renovação no esporte. As camisas já vinham prontas com os nomes. Se houvesse alguma mudança, colocavam outro nome por cima - disse Negão, que revelou uma "panelinha" composta por jogadores que não perdiam o posto de titular.

Junior Negão técnico da seleção brasileira de futebol de areia (Foto: Ana Carolina Fontes)Ex-artilheiro da amarelinha, com 318 gols, Júnior Negão é o treinador da seleção (Foto: Ana Carolina Fontes)

Com uma nova filosofia, o time comandado por Júnior Negão conquistou dois títulos em 2013 (Copa América e Copa das Nações) e ficou com a medalha de bronze nas eliminatórias sul-americanas, carimbando o passaporte para o Mundial da Polinésia Francesa. O Brasil se reforçou com veteranos como o corintiano Buru, os vascaínos Jorginho e Bueno e os rubro-negros Benjamin e Daniel Zidane. Viu jovens como Anderson Wesley e Datinha se afirmarem, e o time passou a marcar mais gols. Apesar disso, a frágil defesa ainda é motivo de preocupação, assim como os novos adversários, que estão em um nível melhor que anos atrás.

- Os veteranos estão engasgados, perderam a última Copa do Mundo, na Itália (2011). O grande barato da Copa de 2013 é o equilíbrio. No meu tempo, tudo conspirava a nosso favor. Era uma geração espetacular, tínhamos uma estrutura profissional. Hoje, o Brasil não é mais tão espetacular, mas vamos treinar para voltar a ser e recuperar o título mundial. Atualmente, a  nossa defesa ainda está vulnerável. E as seleções melhoraram. Na Ásia, seis dos 16 técnicos são brasileiros. A Rússia é adversária do Brasil, mas Ucrânia e Espanha vêm fortes e Nigéria, Irã e Holanda podem surpreender.

A situação mais delicada pela qual o país passou foi nas eliminatórias sul-americanas, quando foi derrotado pelo Paraguai nas semifinais, perdendo a chance de carimbar automaticamente o passaporte para o Mundial. Foi o primeiro revés da seleção brasileira na história do torneio. A busca pelo sexto título foi adiada, mas a seleção ainda tinha a chance de brigar pela última vaga na disputa pelo bronze. Para alívio, a equipe arrancou a vitória sobre o Equador e garantiu a classificação.

A derrota para o Paraguai teve um lado bom. Serviu como motivação. A seleção esteve sempre atrás do placar, e a pressão que costumamos colocar nos nossos adversários caiu sobre nós. Temos que fechar a defesa. A partir do momento que atacamos, ficamos expostos, e o treino vai ajudar a minimizar os problemas"

Júnior Negão, técnico
da seleção brasileira

- O desempenho nas eliminatórias foi como o esperado. O Brasil voltou a fazer gols e a jogar como Brasil. Até a derrota para o Paraguai teve um lado bom. Serviu como motivação para treinarmos mais. Eu sempre falei que o jogo seria duro. Os paraguaios fizeram um primeiro tempo excelente e defenderam bem. A seleção esteve sempre atrás do placar, e a pressão que costumamos colocar nos nossos adversários caiu sobre nós. Falhamos muito e temos que fechar a nossa defesa. A partir do momento que atacamos, ficamos expostos, e o treino vai ajudar a minimizar os problemas - analisou Júnior Negão.

Berço do futebol de areia e maior celeiro de atletas do mundo, o Brasil demorou a iniciar o processo de renovação e pagou caro pelo retrocesso. O maior declínio ocorreu em 2011, quando foi superado nos principais torneios. A decepção maior se deu na Copa do Mundo, em Ravenna, na Itália. Após uma campanha irregular, a equipe canarinho foi goleada pela Rússia e deixou o sonho do penta escapar. Nas duas edições da Copa Intercontinental, o time europeu voltou a atravessar o caminho verde-amarelo, transformando-se no principal algoz dos brasileiros. A jornada no Taiti não será fácil. Além dos russos, os comandados por Júnior Negão terão pela frente fortes seleções como a Espanha, campeã das eliminatórias europeias, e a Argentina, que venceu a etapa classificatória na América do Sul.

- Vamos montar uma base, um grupo de 20 a 25 jogadores, e a nossa ideia é estimular a competitividade entre eles. Um time maduro e a garotada, Datinha, Eudim, Rafinha, Boquinha, Anderson Wesley, Marquinho, Anderson, Lucão, Mauricinho e Clayton (uma grata surpresa). Ninguém está garantido, nem mesmo os mais experientes. Para as eliminatórias, escolhi os 12 jogadores que treinaram melhor. Vou tentar ser o mais justo possível. Os atletas precisam voltar a ter confiança, controlar a ansiedade e não ser tão afobado. Não podemos atacar desenfreadamente sem deixar ninguém na retaguarda.

Sem a definição de torneios até a Copa do Mundo, Negão planeja realizar amistosos contra Argentina, Paraguai e seleções estaduais, como a maranhense e a capixaba.

Datinha seleção brasileira de futebol de areia (Foto: Maurício Val)Em um dos treinos do início da temporada, Datinha aplica bicicleta, e Anderson observa (Foto: Maurício Val)