terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Barrado do primeiro Mundial do Timão, Nenê mantém mágoa até hoje

Marcelo Braga e Rodrigo Vessoni - 11/12/2012 - 12:00 São Paulo (SP)

Nenê - (Foto: Ari Ferreira)
Nenê foi campeão brasileiro pelo Corinthians em 1999 - (Foto: Ari Ferreira)

Oswaldo de Oliveira destaca como a pior lembrança no Mundial de Clubes de 2000. Vampeta, que lançou livro sobre histórias de bastidores do futebol, diz que foi a que mais marcou no torneio. Nenê também se lembra do episódio. Na verdade, ele nunca esqueceu.

Tirado da disputa na véspera da estreia contra o Raja Casablanca (AFR), o zagueiro viu o primeiro título mundial do clube, conquistado em 2000, voltar ao noticiário. E, impedido de jogar, não vê seu nome.

–  Acho que eu não merecia aquilo. Fiz o Brasileiro todo, só fiquei um jogo fora porque trombei com o Raí e fissurei minha costela. Estava no hotel, aí me chamaram e me tiraram. Acho que faltou a palavra dele (Oswaldo)... Carreguei o piano junto com ele o tempo todo, e aí na hora de tocar... Faltou pulso – condena ele, hoje aos 37 anos e já aposentado.

– Não sei os interesses que tiveram por trás, até agora não sei.

Adilson (Batista, hoje treinador) e Fábio Luciano haviam sido contratados após o título brasileiro, e foram mantidos. O primeiro, aliás, beneficiou-se da lesão de João Carlos e tomou a posição na semifinal, ficando eternizado na foto da conquista. Marcio Costa, que atuava como zagueiro e volante, foi o outro inscrito.

Triste, Nenê viu tudo pela TV. Na sequência, recebeu proposta do Grêmio e aceitou, quebrando um contrato que ainda ia durar dois anos.

– Ficou a decepção. Assisti com dor no coração. Podia ter mudado minha vida, pegar uma Seleção, ir para um time forte. Vai que faço um gol? Tudo é possível. Me prejudicou.  É lógico que o Grêmio é um time de tradição, mas queria estar no Mundial...– diz ele, que fez oito no clube.

Em entrevista ao LANCE!Net ainda no primeiro semestre desse ano, o técnico - hoje no Botafogo - destacou o momento como o mais complicado da campanha do título mundial.

- Eu tinha inscrito só dois goleiros, Dida e Maurício. Mas na hora da janta, na véspera da estreia, veio a notícia de que a Fifa exigia que o 23 fosse goleiro. Como ia tirar um jogador? Foi doloroso, uma pedreira para mim. Não era uma relação qualquer, era uma relação de muita confiança. Eu escolhi o Nenê. Choramos os dois juntos, não teve jeito - lembra.

Vampeta, um dos que tentou reverter a situação na ocasião, lembra da história de uma outra maneira:

- Foi uma cagada que fizeram. Esqueceram de inscrever o Nenê, quarto-zagueiro titular, campeão brasileiro, que tinha feito gol na semifinal contra o São Paulo. Estou no quarto do hotel com  Edilson e entra ele chorando: ‘Não estou na lista.’ Fomos até  Oswaldo: eu, Edilson, Rincón... Só faltou matá-lo. Podia ter sido com a gente - diz.

Por muitos anos, Nenê admite que manteve um sentimento ruim por conta do episódio e, até, em relação ao clube. São-paulino na infância, hoje garante que olha os jogos do Timão e sente o coração bater mais forte.

– A passagem marca. O pouco que sou conhecido é graças ao Corinthians – diz, ciente que perdeu a chance de ficar marcado no clube.

Bate-Bola com Nenê
Ex-zagueiro, já aposentado, em entrevista exclusiva ao LANCE!

Qual foi a reação do elenco diante do seu corte para a inscrição de Yamada, o terceiro goleiro...
Fui embora e o pessoal me ligou, falando: “Vem para cá, está errado, vamos consertar.” Foram Rincón, Marcelinho, Vampeta e Edilson falar, mas o clube já tinha entregue o papel. Os jogadores acharam errado, não fui só eu...

Ficou com raiva do clube?
Passou na cabeça, aconteceu isso. Era um Mundial e fiquei fora. Antes era mais forte, agora é mais tranquilo, assisto aos jogos e acho o maior barato a torcida. Não tenho mágoa, dá uma satisfação boa quando vejo a camisa do Corinthians, não tenho rancor, aquele momento ruim passou.

Como vê a zaga atual?
Saiu o Leandro Castán, que foi excelente na Libertadores. O Chicão tem presença de líder e bom passe. Tem de ver com o Paulo André. Está bem, mas falta mais.

NENÊ FOI PARCEIRO DE SHEIK NO JAPÃO

Nenê rodou por alguns clubes depois de deixar o Corinthians. No exterior, atuou pelo Hertha Berlim, da Alemanha, e pelo Urawa Red, do Japão, onde teve sua adaptação facilitada pela presença de um brasileiro na equipe.

– No começo foi difícil, ficava no hotel sozinho, sem entender japonês. Depois, o Emerson tinha mais tempo de Japão e começou a me levar em restaurantes brasileiros. Aí ganhei um carro do clube e comecei a me aventurar pelo GPS. Foi bom – lembra ele, que ganhou três títulos com Sheik.

– Não tenho contato com ele hoje, não que não queira, mas cada um foi para o seu destino. É um cara bacana, que considero bastante. É bem reconhecido no Japão, pois fazia bastante gols. Jogava mais em direção ao gol lá – diz.

No país, o camisa 11 do Timão jogou também por Consadole Sapporo e Kawasaki Frontale.