terça-feira, 3 de julho de 2012

Brasil Afora: adversário do Timão na Libertadores tem xará em Sergipe

Quem não é corintiano corneta: 'o Boca é o Brasil na final da Libertadores'! A frase representa muito mais o anti-corintianismo dos rivais do que propriamente simpatia pelo futebol argentino. Mas isso não significa que o time do craque Riquelme não tenha seus admiradores em solo brasileiro. Em Sergipe, o apreço pelo Boca Juniors fez com que um grupo de amigos criasse o Boca Júnior, versão aportuguesada para homenagear a tradicional equipe argentina.

Um dos fundadores, Gilson Behar, hoje presidente do time, é tão apaixonado pelo Boca que acabou batizando o filho com o nome do maior ídolo do clube na atualidade. Riquelme Miguel da Silva Santos tem nove anos e dá os primeiros toques na bola. O garoto sonha ser um jogador e futebol e seguir os passos do xará famoso.

Presidente batizou o filho com o nome de Riquelme (Foto: Felipe Martins/GLOBOESPORTE.COM)Presidente batizou o filho com o nome de Riquelme (Foto: Felipe Martins/GLOBOESPORTE.COM)

- Se tiver a habilidade do Riquelme estará de bom tamanho. Espero muito que ele possa realizar esse sonho que é meu e dele. Primeiro defenderia o nosso time, depois partiria para grandes equipes, quem sabe até para o Boca argentino - disse o pai.

O Boca Júnior nasceu em 1993 como escolinha de futebol, na cidade de Cristinápolis, distante 115 km de Aracaju. O currículo recheado de títulos do time argentino, a festa que os apaixonados torcedores faziam na Bombonera e a idolatria por Maradona acabaram motivando a homenagem. O time usa o nome e as mesmas cores do 'hermano rico', porém o escudo é diferente.

- Quando nos profissionalizamos, a CBF nos orientou a mudar pelo menos o escudo do time, pois seria complicado registrar-nos 100% igual ao time argentino. Por isso mudamos só o escudo, no mais seguimos toda a linha do Boca - comentou o mandatário do clube.

Escudo do Boca sergipano é diferente do original (Foto: Felipe Martins/GLOBOESPORTE.COM)Escudo do Boca sergipano é diferente do original
(Foto: Felipe Martins/GLOBOESPORTE.COM)

A profissionalização veio somente em 2004. Com ela uma ascensão meteórica. Logo no primeiro ano a equipe conquistou o título da Série A-2 do estado. Em 2007, obteve outra conquista da segundona. Mesmo sem títulos, a equipe realizou boas campanhas na elite do Campeonato Sergipano, mas desde a queda em 2008, não conseguiu mais voltar para a 1ª divisão.

Em 2012, o Boca Júnior tentará mais uma vez o acesso. O elenco está sendo formado para a disputa da segundona, prevista para começar no mês de setembro. É desejo da diretoria reforçar o grupo com dois jogadores argentinos: um meia e um atacante, que seriam emprestados pelo Argentino Juniors. Eles estão apalavrados com o time e devem chegar nas próximas semanas.

Zagueiro atuou por genéricos

Um dos grandes reforços do time para a 2ª divisão do Sergipano é o experiente zagueiro Denis Clay. O jogador já defendeu as camisas de Corinthians e Boca. Não as dos finalistas da Libertadores, mas a dos genéricos do Nordeste brasileiro.

Após ter defendido o Boca Júnior por algumas temporadas, Denis retornou para tentar ajudar o time a subir de divisão. Antes disso, em suas andanças pelo mundo da bola, chegou a jogar no Corinthians Alagoano.

- Tive a felicidade de passar pelos dois genéricos dos finalistas da Libertadores. Neste duelo, a minha preferência é o Boca Júnior, pois aqui vivi anos momentos valiosos na minha carreira e pude contar com o carinho dos torcedores e da diretoria. Apesar de gostar do Corinthians Alagoano, meu coração bate mais forte pelo Boca. Mas na final da Libertadores com certeza vou torcer pelo Corinthians. É time brasileiro e a gente tem que apoiar - disse o zagueiro.

Cauê deve ser o novo reforço do Sergipe (Foto: Felipe Martins/GLOBOESPORTE.COM)Cauê foi revelado pelo Corinthians
(Foto: Felipe Martins/GLOBOESPORTE.COM)

No meio de campo, um outro jogador que vive experiência semelhante. Cauê é paulista e foi formado nas categorias de base do Corinthians. Sem vingar no time profissional, foi para o futebol nordestino. Jogou a 2ª divisão do Campeonato Baiano pelo Galícia e vai defender o Boca na Série A-2.

- Seria um ano perfeito para mim. Ver o time que me revelou campeão da Libertadores e ajudar o Boca de Sergipe a conquistar o título. Vamos trabalhar e torcer para que tudo dê certo - disse Cauê.

Superclássico 'argentino'

Assim como o xará argentino, o Boca Júnior tem um rival chamado River Plate. O adversário nasceu na cidade de Carmópolis e foi criado justamente para formar o clássico com o Boca, porém o embate jamais foi realizado, nem em partidas amistosas. Acontece que as duas equipes nunca se encontraram na mesma divisão. Em um verdadeiro efeito gangorra, quando uma figura na elite, a outra labuta na segundona.

A realidade financeira dos rivais sergipanos não é tão parelha como a dos argentinos. Enquanto o Boca Júnior encontra dificuldades para conseguir patrocinadores e passa por dificuldades financeiras, o River é sustentado pela Prefeitura de Carmópolis, município de pomposos recursos vindos do petróleo que produz.

Confiança e River Plate (Foto: Filippe Araujo / Divulgação)Boca Júnior jamais enfrentou o rival River Plate-SE (Foto: Filippe Araujo / Divulgação)

Desde 2009, quando conquistou a Série A-2, o River Plate foi bicampeão sergipano da 1ª divisão e se tornou uma das principais equipes do futebol do estado. Já o Boca luta ano a ano, sem sucesso, para chegar ao mesmo patamar do rival. Caso consiga subir de divisão neste ano, Sergipe terá em 2013, pela primeira vez na história, o clássico entre River Plate e Boca Júnior.

Boca Itinerante

Boca Júnior caiu para a 2ª divisão em 2008 (Foto: Orlando Lacanna/Jogos Perdidos)Boca Júnior caiu para a 2ª divisão em 2008
(Foto: Orlando Lacanna/Jogos Perdidos)

Para conseguir maior êxito na busca por recursos financeiros, o Boca Júnior adotou a mesma estratégia do Barueri, que mudou para Prudente e depois retornou para Barueri para conseguir novos parceiros. O Boca, que nasceu em Cristinápolis, se transferiu há um ano e oito meses para a cidade de Estância, no sul de Sergipe.

- Foi uma mudança bastante produtiva para nós. Cristinápolis é um município pequeno, com pouco mais de 14 mil habitantes. Não nos oferecia uma estrutura adequada, não tínhamos apoio da prefeitura e do comércio local. Era bem mais complicado para conseguir patrocinadores. Quando mudamos nossa razão social para Estância as coisas começaram a mudar. É um município maior, que tem um comércio forte e também um estádio estruturado para mandarmos nossos jogos - disse Gilson Behar.

O Boca Júnior inicia a caminhada rumo à primeira divisão no próximo mês. A espera do time sergipano é que ele possa voltar a viver dias gloriosos no futebol local. O sonho é mudar de ritmo, saindo da melancolia do tango para se embalar em um alegre forró.

Boca Júnior sonha com dias melhores no futebol sergipano (Foto: Felipe Martins/GLOBOESPORTE.COM)Boca Júnior sonha com dias melhores no futebol sergipano (Foto: Felipe Martins/GLOBOESPORTE.COM)