terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Após um ano sem Sócrates, melhor amigo sente ausência do 'Doutor'

socrates livro corinthians (Foto: Divulgação)Sócrates: um ano sem o Doutor (Foto: Divulgação)

- Alô, Fernando Kaxassa?

- Oi.

- Aqui quem fala é Cleber Akamine, repórter do globoesporte.com. O senhor está ocupado? Posso bater um papo rápido contigo?

- (alguns segundos em silêncio) ... difícil.

- É que hoje, você deve lembrar, faz um ano que o Sócrates morreu e por vocês serem amigos...

- É. Por isso eu disse que é difícil.

A voz embargada, antes mesmo de qualquer identificação ao telefone, já descrevia o sentimento carregado de tristeza pela perda do amigo Sócrates, que morreu no dia 4 de dezembro de 2011. A entrevista, ainda pela manhã, resgatou lembranças ao produtor cultural Fernando Kaxassa, que sempre esteve ao lado de Magrão (veja página especial de Sócrates).

- Ele me ligava todos os dias quando estava em Ribeirão Preto, por volta das 9h. Ele me acordava dizendo 'vamos para o crime?'. Era um convite para tomar um chopp e bater papo sobre a vida. Hoje é um dia triste. Acho que estou tão triste quanto no dia da morte. Ainda não consigo entender a morte dele - comentou Kaxassa, abatido pela saudade, mas feliz pelas lembranças que teimam fazer parte de sua rotina.

Fernando Kaxassa tem dificuldades em aceitar a morte de Sócrates (Foto: Divulgação / Jefferson Barcellos)Kaxassa tem dificuldades em aceitar a morte de
Sócrates (Foto: Divulgação / Jefferson Barcellos)

Ir ao cemitério? Rever o túmulo? Missa? Não. Estes não eram os ambientes mais frequentados pelos companheiros de Cine Club Cauim - cinema onde Sócrates se encontrava e gravava entrevistas para o seu programa de TV "Papo com o Doutor" -, e nem faz parte dos planos de Kaxassa. Para lembrar do amigo, nada melhor do que ir a um dos pontos de encontro preferidos de Sócrates.

- Vou para o Pinguim tomar um chopp por ele. Se eu tivesse morrido antes, ele faria o mesmo. Nada de cemitério. Quero lembrar das coisas boas, das boas conversas que a gente tinha com ele. O Magrão era um palhaço, um cara alegre. Não quero ficar triste - disse Kaxassa, que lamentou a ausência de Sócrates no nascimento de sua primeira neta.

- O Marcelo, filho dele do primeiro casamento dele, teve uma filha neste domingo. O grande sonho da vida dele era ter uma neta, já que ele tinha seis filhos e nenhuma menina. O sonho dele era ser avô. E justamente neste domingo ele ganhou uma netinha - disse.

Futebol

Kaxassa nunca gostou de futebol. Nunca fez gols e mal entendia de esquema tático. Porém, o convívio com Sócrates o fez compreender o significado deste esporte, obviamente, influenciado pelas ideias de Magrão, revelado pelo Botafogo-SP e um dos maiores ídolos do Corinthians.

- Ele enxergava o futebol como arte e tentava transmitir esse pensamento. Ele sempre defendeu a seleção de 82. Não importava o resultado. O importante era jogar bonito, era fazer a torcida feliz. Ele deve estar muito triste no túmulo com esse rebaixamento do Palmeiras. Como é que um time grande cai para a segunda divisão? E o Felipão? Ele não deve estar nada feliz com ele na seleção - brincou Kaxassa.

Procurados pela nossa reportagem, irmãos e familiares de Sócrates preferiram não falar sobre o assunto.

Túmulo de Sócrates, em Ribeirão Preto (Foto: Cleber Akamine / globoesporte.com)Túmulo de Sócrates, no cemitério Bom Pastor, em Ribeirão Preto (Foto: Cleber Akamine / globoesporte.com)