Maurício Oliveira
Pedro Lopes
Renato Rodrigues
Publicada em 14/08/2012 às 07:03
São Paulo (SP)
Os gringos que chegaram ao Corinthians depois da Copa Libertadores começam a ganhar espaço. Após Guerrero ser titular contra o Atlético-GO, chegou a hora de Juan Martínez ser escalado entre 11 principais de Tite. O hermano será titular na partida contra o Internacional, na quinta-feira.
E o argentino fez por onde para cavar sua vaga no time. Apesar da oportunidade estar vindo com uma série de baixas no setor ofensivo (Sheik, lesionado, Romarinho, suspenso, e Guerrero, com a seleção peuana), o “Burrito” – apelido que trouxe da Argentina – tem seus méritos na conquista. E eles não vieram apenas pela atuação contra o Coritiba, quando entrou no meio do segundo tempo e mudou o jogo, participando até do gol da virada.
O dia a dia do novo camisa 7 também conta a favor. Apontado como o novo “tagarela” do elenco, ele surpreendeu na rápida adaptação. Funcionários do clube relataram ao LANCENET! que o reforço parece estar no CT Joaquim Grava há meses, e não há alguns dias. Este é só um dos traços que marcam a personalidade do atacante argentino.
Sempre bem humorado, ele costuma brincar muito com todos. Basta uma pausa, para ele começar a “resenha” com algum companheiro. Sua performance durante os trabalhos também têm provocado elogios da comissão técnica.
Confira um clipe do argentino Martínez no Timão
Mesmo com muitos fatores a seu favor, o argentino não se firmará de vez no time titular. Tite prefere adotar cautela com os novatos.
– É fácil pegar jogadores do nível que vieram, como Martínez e Paolo, e jogar na equipe. Mas não é assim, vai entrando aos poucos. Tem todo o entrosamento com a forma de o time jogar – diz o treinador.
Revelado nas categorias de base do Vélez Sarsfield, o atacante já era observado pelo Timão há pelo menos dois anos. A reportagem apurou que a comissão técnica reúne dados e estatísticas do argentino desde o segundo semestre de 2010, quando começou a trabalhar no clube. O sonho de contar com ele, no entanto, só aconteceu no meio desta temporada, com a ajuda de investidores. Para concretizar a transferência, o clube do Parque São Jorge venceu disputa com o Santos e com clubes da Europa, como Valencia (ESP) e Genoa (ITA). Para ficar perto da família, Martínez optou pelo Corinthians.
Promessa de dribles e jogadas de efeito, Martínez vem aí!
CONFIRA AS CURIOSIDADES DO ARGENTINO:
Perseguido por mulheres na Colômbia, vítima de ‘terrorismo’ no Vélez, um irmão craque...
Excêntrico
Martínez chegou ao Timão cheio de estilo trajando um sobretudo cinza e uma camisa preta. Na verdade, a preocupação com as vestimentas é um traço antigo do “Burrito”, presente desde os tempos de Vélez Sarsfiled.
Em entrevista ao “Diario Olé”, da Argentina, ele explicou que na sua ex-equipe a preocupação com a moda e a elegância era tamanha que, aqueles jogadores que apareciam com sapatos sujos, tinham seus calçados queimados:
- Do Pellerano (zagueiro que atuou no Vélez em 2008) queimaram sapatos e um cinto. Se vestia muito mal! - brincou.
Assédio feminino
Em 2008, Martínez teve uma breve passagem pelo futebol colombiano, quando foi emprestado ao Deportivo Cúcuta, por meio do empresário e ex-jogador do Boca Juniors Maurício Serna.
Se da Colômbia não vieram grandes histórias futebolísticas, não faltaram situações curiosas e até constrangedoras. Segundo o camisa 7, o assédio das fãs colombianas era tão grande que chegava a causar atrito com as namoradas:
- As colombianas eram muito atrevidas. Estava com minha mulher do lado e me acossavam, me tocavam - lembra o argentino.
Se no início essa característica das mulheres colombianas pareceu interessante, após algum tempo passou a preocupar um pouco mais...
- Era uma loucura, no começo gostávamos, eu achava que era o Brad Pitt (risos). Mas depois isso se tornou um pouco pesado.
Felizmente para o atacante, não ocorreram maiores transtornos:
- Minha mulher confiava em mim - garantiu.
Arábia conservadora
Situação oposta da encontrada no futebol colombiano seria a vivida por Martínez na Árabia Saudita, para onde se transferiu em 2008, para defender o Al-Shabab. Na rígida cultura do Oriente Médio, as mulheres deixaram de ser preocupação:
- Os homens se aproximavam, as mulheres não. Eram proibidas de ir ao estádio para ver os jogos - explicou.
Mas, ainda assim, havia cuidados a serem tomados no dia a dia:
- Não podia ficar pelado na frente de um muçulmano. No vestiário, cada um possuía um chuveiro privado, de onde você saía vestido. Uma vez me esqueci e vieram tirar satisfações: ‘O que você está fazendo?’. Fiquei com medo!
Em um país com uma cultura tão diferente, não existiam muitas alternativas para passar o tempo:
- Lá não tem cinema, teatros, baladas. Álcool é proibido, Usávamos a internet ou íamos fazer compras - contou.
A passagem durou apenas um ano, e Martínez retornou ao clube que o revelou em 2003, o Vélez Sarsfield.
Paixão de infância
Com o bom futebol apresentado no Vélez (em 2011 foi eleito, ao lado de Lionel Messi, o futebolista argentino do ano), Martínez atraiu o interesse de diversos clubes da Argentina e do exterior. Um deles foi o River Plate. Em julho deste ano, o atacante admitiu para o “Diário Olé” que era torcedor da equipe:
- Quando criança, eu era River. Era um sonho jogar lá. Depois, você começa a se dedicar a isso (futebol profissional) e as coisas mudam. Mas eu torcia - revelou.
No final das contas, a paixão de infância ficou em segundo plano. “El Burrito” acabou seduzido pelo futebol brasileiro e contratado para defender o Timão.
Adaptado
Apesar do pouco tempo no país, Martínez já dá sinais de uma rápida adaptação. Além de seu futebol, que mostra sinais de melhora, sua interação com os companheiros parece ótima.
O atacante pode ser visto frequentemente conversando com os colegas no CT Joaquim Grava, e não dá mostras de timidez. Sua facilidade em se enturmar e inclinação ao diálogo já lhe renderam uma fama de tagarela entre os companheiros de equipe no Timão.
Moradia e família no Brasil
Visando acelerar seu processo de adaptação ao país, Martínez adquiriu uma casa no Brasil. A residência fica em Alphaville, fora do centro urbano de São Paulo. O atacante já reclamou do trânsito e das horas desperdiçadas no trajeto. São quase 40km de distância... Pessoas próximas dizem que ele pretende trazer toda sua grande família para residir aqui, na casa recém-comprada.
Futebol no sangue
Juan Manuel Martínez não é o único em sua família que fez do futebol sua vida. Ele tem um irmão mais novo – Nicolás Martínez, conhecido como Nico e de 24 anos – que é meio campista. Com 1,69m de altura, foi revelado pelo Almirante Brown, equipe modesta de Buenos Aires, antes de passar por Independiente e Santiago Wanderers (CHI). No início deste mês, Nicolás transferiu-se para o Real Murcia (ESP). Se depender do irmão, fará sucesso em terras europeias.
- Eu engano bem, isso sim. Mas ele joga melhor (risos) - afirmou.
Se o Timão ficou tanto tempo observando o “Burrito”, seria o caçula mais uma aposta para ficar de olho?
Cleber Xavier
Auxiliar técnico do Corinthians,
em entrevista ao LANCENET!
Reparamos que, desde que chegou, Martínez está bem tranquilo. A adaptação quando você sai de outro país não é tão rápida, todos sabemos disso. Mas pelo bom ambiente que temos no clube e pelo momento que vive o time invicto há oito jogos, ajuda muito neste trabalho de quem chega. Ainda foi contratado após um título de Copa Libertadores. Fica bem mais fácil para ele, sem dúvidas.
Ele é um cara que brinca com todos. Chama a atenção ele ter se misturado rapidamente no elenco. Procura ser atencioso e conversa bastante com todos no CT.
Martínez teve uma atuação muito boa contra o Coritiba. Mas para a gente, da comissão, não chega a ser surpresa porque ele vinha treinando muito bem.
Tite queria Ortega no Timão há oito anos
O apelido de Burrito que Martínez ganhou na Argentina foi devido à semelhança ao estilo de jogo de Ariel Ortega, que também era chamado por este nome.
Na edição de 1 de junho de 2004, o LANCE! revelou a negociação do ex-meia argentino com o Timão. Tite era o treinador na época e esperava um reforço para a camisa 10. A negociação para ter o ex-jogador – aposentou-se na semana passada – esquentou, mas por dificuldades financeiras o clube acabou não acertando. Ortega chegou a viajar ao Brasil para tratar de sua transferência.
Com a palavra
Hector Salerno
Repórter do ‘Diário Olé’, da Argentina, e setorista do Vélez
A maior semelhança entre Ariel Ortega e Juan Martínez está no drible. Os dois se caracterizam por movimentos desestabilizadores e imprevisíveis, o que deixa qualquer defesa pela frente louca.
Ariel foi muito bem no River Plate, pelo qual ganhou títulos. Na Europa, não foi tão bem. Ele se comportou mal e sua carreira no ano passado não andou. O fato de ter saído do River, clube que sempre disse amar, também o atrapalhou muito e o fez encerrar a carreira prematuramente.
Martínez tem uma carreira inteira pela frente. Já ganhou vários títulos na Argentina e a seleção ainda deverá ser o seu destino. E se ele continuar jogando bem no Corinthians, vai ficar na história como Ariel Ortega.
Décimo argentino no Corinthians
Martínez é o décimo jogador argentino na história a defender o Corinthians. O primeiro foi o goleiro Buttice, em 1974, que jogou apenas 14 jogos em 1974.
O mais querido pela torcida e mais vencedor foi Carlitos Tevez, contratado por quase US$ 20 milhões do Boca Juniors (ARG), em dezembro de 2004, e negociado em meados de 2006. Foi campeão, artilheiro e craque do Brasileirão de 2005.
Os outros argentinos foram o centroavante Hector Veira (1976), o zagueiro Ávalos (2001), o volante Mascherano (2005), o zagueiro Sebá (2005), o atacante Herrera (2008), o zagueiro e lateral-esquerdo Escudero (2010) e o meia Defederico (2009) – este, ainda com vínculo com o Timão, está emprestado ao Independiente (ARG).
