quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Todas as faces de Paolo Guerrero, camisa 9 do Timão

Felipe Bolguese
Rodrigo Vessoni

Publicada em 02/08/2012 às 07:00
São Paulo (SP)

Guerrero chegou com discurso humilde no Corinthians. Longe de ser uma média com Tite. Faz parte da característica do atacante destacar o coletivo e ajudar os outros. É assim na seleção do Peru, onde é a grande referência. É assim em seu país, onde é o jogador mais idolatrado. E ele diz, sempre, que só quer ajudar...

Foram apenas 35 minutos em campo, somados os tempos dos duelos contra Cruzeiro e Bahia – nos dois ele saiu da reserva. Pouco para o que quer mostrar. Sua primeira meta é convencer o técnico que pode voltar ao esquema com um centroavante, abolido desde que Liedson entrou em má fase.

– Tenho trabalhado bem. Venho entrando aos poucos, pouco a pouco vou me adaptando. Meus companheiros me ajudam bastante nessa adaptação. Quero jogar de titular o mais rapidamente possível. Espero desequilibrar e fazer um gol. O mais importante é melhorar a posição no Brasileirão – afirmou, na última quarta-feira, no CT Joaquim Grava.

Há cerca de duas semanas no clube, ele ainda busca entrosamento. Até mesmo fora de campo. Fábio Santos e Welder estão quebrando o gelo, fazendo piadas, principalmente de seu cabelo. Guerrero ainda é reservado, fala pouco e fica mais com o compatriota Ramírez. Mas já tem encantado pela sua personalidade.

Quando passa férias no Peru, faz questão de ajudar instituições. É também o garoto propaganda da Unicef no país. No mesmo período, aproveita para matar a saudades do filho Diego Enrique, a quem vê pouco, e a quem declara o maior amor que sente por alguém. Em São Paulo, ainda vive em um hotel, sozinho, mas quer mudar o cenário. Tão logo arrumar um apartamento, chamará os pais, que ainda vivem no Peru.

Também não teve tempo de comprar um carro, uma de suas paixões, e tem ido ao CT de carona com o motorista do Corinthians, Messias, em uma van. No trajeto, tem companhia de outro gringo, Burrito Martínez - que também ainda vive em um hotel-, e também o ajuda a se soltar mais no clube.

Seu maior medo é andar de avião. Em campo, não tem medo de nada. Nem de brigar com torcedor, nem de extrapolar em uma entrada contra um adversário. São erros do passado, ele garante. No Corinthians está mais maduro. Pronto para ser feliz. E, claro, ajudar o quanto puder...

Confira as histórias e curiosidades de Guerrero

Amor ao filho

Tatuagens no corpo
Antes mesmo de Guerrero tornar-se profissional, em 21 de junho de 2004, nasceu Diego Enrique, fruto de um breve relacionamento com a brasileira Marja Irene Santana. Diego só foi reconhecido depois de nascido, após um teste de DNA, e foi registrado no consulado brasileiro em Munique. Ele tem o rosto do filho (na época recém-nascido) tatuado na região de seu abdômen. No ano passado, na Alemanha, chegou a dizer: “Me dói muito viver sem ele". Em São Paulo, ele está morando sozinho, ainda longe do filho, em um hotel próximo ao CT. Nos braços, ele ainda tem tatuada a imagem da Virgem Maria e o seu nome escrito em dialeto chinês.

El Depredador

Apelido pegou no Peru
Em 2004, quando defendia o Bayern de Munique (ALE), o atacante vivia uma grande fase de gols. O fato aliado ao penteado adotado na época, o “rastafári”, fizeram-no ser chamado de “predador” pela imprensa. “Acho graça do apelido. Acredito que foi por causa do penteado, mas não sejam maus, não me pareço ao monstro desse filme”, disse, em alusão à ficção dos EUA “Alien vs. Predator”.

Ações sociais em seu país

Ajuda: ‘Deus dá mais’

Quando passa férias no Peru, Guerrero costuma ajudar crianças carentes em instituições. Depois de ser artilheiro da Copa América do ano passado, ele fez uma visita a uma instituição e levou bolas e camisas para crianças, deixando uma mensagem: “Com diligência e perseverança, pode-se fazer muito”. Todo Natal ele destina uma quantia para uma ONG no Peru. Nos últimos dois anos, gravou comerciais para a Unicef pedindo apoio para crianças. “Gosto de fazer coisas sociais, não somente por ter muita pobreza no mundo, mas porque eu tenho a sorte de ser um privilegiado e ter ganhado dinheiro. Ajudar pessoas que não têm nada me faz muito bem. Entendo que todos os jogadores teriam de ajudar as pessoas na rua. Tenho certeza de que Deus lhe dá mais quando você ajuda ao próximo”, afirmou ele.

Medo de avião

Trauma após morte
Guerrero toma medicamentos para dormir toda vez que tem de pegar um avião. O trauma vem desde 1987, quando seu tio José González Ganoza, ex-goleiro do Alianza Lima, morreu em acidente aéreo com toda a delegação, após uma partida pelo Campeonato Peruano. Na época, Guerrero tinha apenas cinco anos de idade.

Cavalos e carros

Aposta com jogador
No início da carreira profissional, na Alemanha, ele começou uma paixão por carros. Desde os 19, já teve carros como Pathfinder, Porsche e Ferrari. Como está há pouco tempo no Brasil, ainda vai ao CT Joaquim Grava numa van com o motorista do Corinthians. Outra paixão de Guerrero são os cavalos. Ele tem cerca de dez cavalos de corrida em um hipódromo de Lima, no Peru, e gosta de apostar. No início deste ano, ele e o compatriota Claudio Pizarro apostaram um cavalo em um duelo entre Werder Bremen e Hamburgo, e o corintiano levou a pior.

Lado bad boy

Erros e aprendizado
Em março deste ano, em derrota do Hamburgo por 4 a 0 para o Stuttgart (ALE), o peruano foi expulso ao aplicar um carrinho violento no goleiro Sven Ulreich. Com isso, foi suspenso por oitos jogos pela Federação Alemã. “Foi uma m... porque prejudiquei minha equipe”, afirmou em coletiva. Em abril de 2010, o jogador já havia recebido uma multa e suspensão por cinco jogos por ter atirado uma garrafa de água (de plástico) na cabeça de um torcedor que o teria ofendido na saída do gramado. Na apresentação no Corinthians, ele disse que não era "bad boy" e que havia aprendido.

Espírito coletivo

Também com a seleção
Durante as eliminatórias, no ano passado, a imprensa peruana apelidou de “Quarteto fantástico” o ataque da seleção formado por Guerrero, Farfán, Pizarro e Vargas. Em coletiva, ele fez um apelo aos jornalistas: “Esse apelido não me agrada, não gosto que nos chamem de quarteto fantástico. Aqui não tem estrelas, tem uma equipe, como diz o nosso treinador. Todos correm e se esforçam para as vitórias”, afirmou.

Terapia

Tratamento após lesão
Em setembro de 2009, o jogador teve a lesão mais grave da sua carreira. Após um duelo contra a Venezuela, pelas Eliminatórias, ele teve o menisco do joelho esquerdo operado e só retornou às atividades no fim de março de 2010. “Foi terrível, me senti frustrado, deprimido. Fiz terapia, que me ajudou a me tranquilizar, a me conhecer mais e encontrar um equilíbrio”, afirmou Guerrero.

O mais popular

Assédio em hotel
Em uma pesquisa realizada no Peru em janeiro, pela empresa “Ipsos Apoyo“, Guerrero foi eleito por 91% dos votos como o mais comprometido com a seleção nacional entre os jogadores que atuam fora do país. Até por isso ele desbanca ícones como Farfán, Pizarro e Vargas em termos de popularidade no Peru. No Brasil, a procura por ele foi tão intensa que o atacante teve de mudar de hotel, em virtude do alto número de peruanos que o “marcavam” de perto.

Mito da base

Nunca estreou no Alianza
Guerrero começou no futebol nas categorias de base do Alianza Lima. Lá, ficou até os 17 anos e já tinha fama de ter marcado mais de 200 gols. Sem chance entre os profissionais, saiu para o Bayern de Munique em 2001, o que causou briga na justiça entre os clubes. Ele seguiu na base e fez sua estreia profissional apenas no dia 23 de outubro de 2004, pelo Nacional.