sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Torcedor do San José visita presos, e Itamaraty vê 'ausência' do Timão

A tensão que tomou conta de Oruro desde a morte do garoto Kevin Douglas Beltrán Espada, de 14 anos, teve um importante alento na tarde desta sexta-feira. Um representante da torcida do San José, a “La Temible”, visitou os 12 corintianos até então presos em uma cela da Corte Superior de Justiça da cidade – eles já foram transferidos para uma penitenciária. Na conversa, que durou poucos minutos, o “hincha” falou em nome de sua torcida e tentou tranquilizar os brasileiros.

Dois representantes da embaixada brasileira na Bolívia presenciaram o encontro: o funcionário administrativo Beymar Duchén Rojas e o consultor jurídico Miguel Blancourt. O representante do San José disse que sua torcida prestaria toda a solidariedade aos presos, e que “a La Temible reconhece que a morte do garoto foi fruto de um acidente”.

– Esse encontro foi importante para que a tranquilidade seja estabelecida. Aos poucos, os torcedores bolivianos entendem que não se tratou de algo premeditado – afirmou Beymar Rojas.

Mulheres bolivianas entregando comida aos presos (Foto: Diego Ribeiro)Mulheres bolivianas entregam comida aos
corintianos presos (Foto: Diego Ribeiro)

Se o “hincha” do San José está em contato direto com os torcedores, o mesmo não ocorre com o Corinthians. Os representantes do Itamaraty reclamaram da “ausência” do clube na defesa dos 12 presos em Oruro e disseram que não houve qualquer contato desde a chegada a Cochabamba, segunda-feira.

O ministro conselheiro Eduardo Saboia informou que a maioria dos clubes que joga na Bolívia faz algum tipo de contato com a Embaixada.

– O São Paulo jogou aqui há um mês (contra o Bolívar, em La Paz) e sua diretoria nos fez uma visita, perguntou sobre logística, segurança. Estamos aqui para atender a todos. Mas nenhum representante do Corinthians entrou em contato conosco, nem antes, nem depois do jogo – disse Saboia.

Esses torcedores estão abandonados aqui. Estamos tentando o melhor tratamento para eles"

Eduardo Saboia, ministro conselheiro do Brasil na Bolívia

– Esses torcedores estão abandonados aqui. Estamos tentando dar o melhor tratamento possível a eles – completou.

Eduardo Saboia e os outros dois representantes do Itamaraty acompanharam a transferência dos corintianos para a Penitenciária de San Pedro, localizada a 200 metros do Estádio Jesús Bermudez. O ministro conselheiro deve voltar a La Paz neste sábado, enquanto Beymar Rojas e Miguel Blancourt ficarão em Oruro por mais alguns dias.

O embaixador do Brasil na Bolívia, Marcel Fortuna Biato, não pôde ir a Oruro porque está em Guayarámerin, na fronteira com a cidade brasileira de Guajará-Mirim. Lá, o embaixador está cuidando do processo de reativação do consulado no local – também há unidades em Cochabamba, Santa Cruz de la Sierra, Cobija e Puerto Suárez.

Os corintianos estavam detidos na Corte Superior de Justiça de Oruro, onde ouviram do juiz cautelar Julio Huarachi Pozo que ficarão presos de forma preventiva até o julgamento. Dois dos 12 foram indiciados como autores do homicídio porque portavam sinalizadores idênticos ao que mataram Kevin. Os outros 10  foram indiciados como cúmplices.

Eduardo Saboia - ministro conselheiro da Embaixada do Brasil na Bolívia (Foto: Diego Ribeiro / globoesporte.com)Eduardo Saboia, ministro conselheiro da
Embaixada do Brasil na Bolívia (Foto: Diego Ribeiro)

A tendência é que eles fiquem na Bolívia pelo menos até agosto, segundo funcionários da embaixada brasileira no país. Desesperados, os corintianos pedem ajuda até da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Representantes da embaixada brasileira na Bolívia preparam recurso para fazer com que o grupo responda em liberdade.

A análise será feita pelo juiz cautelar Julio Huarachi Pozo, o mesmo que decretou a prisão preventiva. A decisão sobre o recurso pode demorar horas ou dias. Na apelação feita durante a análise das medidas cautelares, o juiz se mostrou irredutível.

– Decidimos manter os 12 encarcerados nessa fase de investigação por questões de segurança. Sabemos que não há provas contundentes, mas vamos mantê-los encarcerados porque sabemos que é muito fácil sair da Bolívia – argumentou Julio Pozo.

Confira a lista dos presos:

Leandro Silva de Oliveira - 21 anos
Tadeu Macedo Andrade - 30 anos
Reinaldo Coelho - 35 anos
José Carlos da Silva Junior - 20 anos
Marco Aurélio Nefeire - 31 anos
Daniel Silva de Oliveira - 27 anos
Hugo Nonato - 27 anos
Clever Souza Clous - 21 anos
Cleuter Barreto Barros - 24 anos
Fábio Neves Domingos - 32 anos
Rafael Machado Castilho Araújo - 18 anos
Tiago Aurélio dos Santos Ferreira - 27 anos