sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Emerson Sheik, diferenciado dentro e fora de campo no Corinthians

Felipe Bolguese, Marcelo Braga e Rodrigo Vessoni - 28/09/2012 - 08:19 São Paulo (SP)

Emerson Sheik ensina os filhos (Foto: Reprodução Twitter)
Na tarde de quinta-feira, enquanto seus companheiros treinavam, Emerson estava em casa ajudando seus filhos com trabalho de escola (Foto: Reprodução Twitter)

Emerson não treinou quinta-feira à tarde, não treinará na tarde desta sexta-feira nem sábado pela manhã. No domingo, terá de cumprir mais um dos seis jogos de suspensão impostos pelo STJD e não enfrentará o Sport. Os quatro dias de folga retratam o tratamento diferenciado que o herói da Libertadores recebe no Corinthians. Neste ano, ele atuou em 34 dos 62 jogos do time.

Conscientes da importância do atacante – que, apesar de ter atuado menos jogos do que outros oito jogadores, jamais deixou de fazer sua parte em campo –, diretores, treinador e preparadores físicos trabalham numa espécie de “estica e puxa da cordinha”, como definiu certa vez um dos dirigentes em conversa com a reportagem do LANCE!.

– Em certos momentos, deixamos a cordinha mais frouxa. Quando vemos que vai extrapolar, puxamos de volta. É assim que agimos com ele – explicou o dirigente.

Na coletiva pós-título, Tite chegou a dizer que Emerson deveria chegar mais cedo aos treinos. O que não acontece normalmente por causa da distância de 40 quilômetros de sua casa, em Alphaville, na Grande São Paulo, ao CT Joaquim Grava.

Essa administração extracampo é necessária por outros fatores, problemas e peculiaridades do jogador, que responde processo por suspeita de lavagem de dinheiro e contrabando de carro importado, que não se preocupa em usar seu Twitter para provocar os rivais do Timão nem se furtou em pegar um helicóptero para chegar do Rio “menos atrasado” durante um simples treino. Detalhe: é dono de uma macaca, que é tratada como filha em casa.

De acordo com Duílio Monteiro Alves, diretor-adjunto de futebol, a folga de quatro dias concedida a Emerson será dada a outros jogadores do elenco, assim que a equipe atingir a marca de 45 pontos no Campeonato Brasileiro, número suficiente para exterminar a chance de queda para a Segundona.

Suspensos contra o Botafogo, no domingo passado, Danilo e Fábio Santos tiveram folga de dois dias.

O QUE O CLUBE FEZ POR EMERSON...

Atrasos nos treinos
Emerson não abre mão de morar em Alphaville, distante 40km do CT Joaquim Grava. Como atravessa a cidade, que vive parada pelo caos no trânsito, atrasos são inevitáveis. Clube administra isso no dia a dia.

Problemas na Justiça
O jogador responde processo por suspeita de lavagem de dinheiro e contrabando de carro importado, além de fazer trabalho voluntário devido à condenação por falsidade ideológica. Problemas na Justiça que tiram sua paz fora de casa e, vez ou outra, o tiram dos treinos.

Provocações
Twitter, microfones ou dentro de campo, não importa. A maneira irreverente de levar a vida é outro motivo que necessita de atenção especial de diretoria e comissão.

...E o QUE EMERSON FEZ PELO CLUBE

Penta do Brasileirão
Emerson deixou o Fluminense para acertar com o Corinthians. Chegou quieto, ficou no banco de reservas, mas conseguiu mostrar seu futebol e foi fundamental na campanha do título. Nos jogos mais complicados, era ele quem aparecia, com gols ou assistência. Foi destaque no título.

Libertadores
No momento mais decisivo da competição sul-americana, foi ele quem decidiu. Na semifinal, fez o gol da vitória contra o Santos, na Vila Belmiro – acabou expulso. Na decisão contra o temido Boca, fez a jogada do gol de empate dentro da Bombonera e, de quebra, marcou os dois gols na decisão, entrando para a história do clube como heroi da conquista inédita. De quebra, ainda irritou os argentinos, mestres em catimbar os atletas brasileiros.

OPINIÃO DO NÚCLEO CORINTHIANS

"Os privilégios que ele tem não incomodam os demais. E não adianta tentar con-trolá-lo. Acordo justo"
Maurício Oliveira, editor

"Tite tem o respeito do grupo porque não faz isso apenas para um jogador. É assim desde outubro/2010"
Rodrigo Vessoni, Repórter

"Sheik é diferente, não só como atleta, mas como pessoa. É o ‘maluco do bem’ e é tratado como tal"
Felipe Bolguese, repórter

"É o personagem mais curioso do Timão. Se não resolvesse em campo, seria um problema. Mas não é caso"
Marcelo Braga, repórter

JULGAMENTO INDEFINIDO

O fato de o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) não ter colocado na pauta dos julgamentos de hoje o recurso interposto pelo Timão para contar com Emerson no domingo foi uma surpresa. Foi essa situação que impediu a presença dele contra o Sport e fez com que ganhasse folga.

Sheik foi expulso contra o Atlético-MG, na 21 rodada. Na ocasião, proferiu ofensas ao árbitro da partida e acabou suspenso por seis partidas. Contra o Sport, cumprirá só o quarto jogo previsto em sua sentença.

A próxima sessão do pleno do STJD acontece no dia 4/10. Se o recurso for incluído na pauta e a pena reduzida, ele poderá retornar contra o Náutico, dia 6, ou Flamengo, dia 10. Em caso de manutenção da punição, o retorno só aconteceria contra a Portuguesa, dia 13.

COM A PALAVRA

João Zanforlin, advogado do corinthians

"Até na novela se escuta ‘safado’"

"O argumento da punição é ofensa à honra, mas falar “safado e ladrão” no campo não é isso. Houve votos discordantes na comissão. Os rapazes que julgaram, um de Santa Catarina e outro do Distrito Federal, são novos, não entendem que é palavreado comum no futebol. A punição não só foi exagero, como um erro. Jogador dá pontapé e pega dois, três jogos. Aí falar ladrão e safado é ofensa? Até na novela de maior audiência se escuta safado, cachorro, essas coisas."

NR: Em “Avenida Brasil”, da TV Globo, a música “Cachorro Perigoso”, da banda Tchê Garotos, é trilha e cita as palavras.