Galão de querosene ainda não foi retirado do Estádio
Jesús Bermudez, em Oruro (Foto: Diego Ribeiro)
Três dias após a tragédia que matou o garoto Kevin Douglas Beltrán Espada, de 14 anos, o Estádio Jesús Bermudez parece ter parado no tempo. Sujeira, restos de sinalizadores, panos e até um galão que ainda cheira a querosene foram encontrados pela reportagem do GLOBOESPORTE.COM em visita ao local na tarde deste sábado. O único acesso aberto foi ao setor de arquibancada atrás de um dos gols, onde costuma ficar a “La Temible”, torcida organizada do San José.
Alguns restos de artefatos pirotécnicos foram encontrados, mas um deles chamou a atenção por estar quase intacto. Um sinalizador descartável, bem menos potente do que o utilizado pela torcida do Corinthians, tinha as inscrições “Football Torch” (Tocha para futebol), deixando bem claro qual seria a indicação de uso do objeto.
Apesar de oferecer bem menos perigo do que os modelos utilizados pelos corintianos, a entrada de diversos sinalizadores vai de encontro ao que dizia a polícia boliviana – que a revista foi muito bem feita, e que a entrada desse tipo de objeto se deu por acidente. O major Antenor Mendrano, da Fuerza Especial de Lucha Contra el Crimen, reconheceu que houve falha na fiscalização.
Grade do estádio que recebeu pirotecnica da 'La Temible', torcida do San José (Foto: Diego Ribeiro)
– Se tantas bengalas (nome dado aos sinalizadores na Bolívia) entraram, algo estava errado. Isso está sendo investigado, o motivo de a revista não ter sido bem feita. Estamos fazendo de tudo para que isso não ocorra mais. Não queremos mais esse tipo de artefato nos estádios – disse Mendrano.
O major também lamentou a presença do galão de querosene, que serviu para acender o mosaico da “La Temible”, que pegou fogo durante quase 10 minutos. O procedimento utilizado foi simples: o nome da torcida foi formado com pedaços de jeans e molhado com o querosene, altamente inflamável. Bastou um fósforo para acionar o mosaico.
Parte de sinalizador foi encontrado nas dependências
do estádio neste sábado (Foto: Diego Ribeiro)
– Isso é grave, mas às vezes não há controle. Precisamos aumentar esse tipo de fiscalização – explicou o major.
Além dos objetos pirotécnicos, havia muita sujeira nas arquibancadas. Entre os artigos mais curiosos, dois cartazes de protesto à mudança de nome do aeroporto local, que agora se chama Evo Morales, atual presidente da Bolívia. A população de Oruro quer que o nome original seja reutilizado: Juan Mendoza, responsável pelo início da aviação na Bolívia.
Durante a manhã, o San José treinou no estádio. No entanto, o palco parece abandonado após a tragédia. Curiosamente, o local mais limpo é justamente aquele onde se encontrava a torcida do Corinthians – e de onde saiu o disparo do sinalizador que matou Kevin Beltrán Espada.
Parte de artefato pirotécnico utilizado pela torcida do San José, no jogo contra o Corinthians (Foto: Diego Ribeiro)
Estádio Jesús Bermudez, três dias após a morte de Kevin, apresenta muita sujeira (Foto: Diego Ribeiro)