Emerson entrou para a história do Timão na última
quarta (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
Vestido com uma camisa do Chelsea, um menino de dez anos espanta-se e coloca a mão na boca como se não acreditasse quem acabara de encontrar. Outras tantas crianças que estão no campo de barro à espera do início da partida param para acompanhá-lo e gritam: “Você joga muito”. Os treinadores têm que berrar para retomar a concentração dos meninos. Mas todos continuaram enfeitiçados por Emerson, o herói da primeira conquista do Corinthians na Taça Libertadores
Poucos dias depois de marcar os dois gols da vitória sobre o Boca Juniors, Sheik aproveitou o sábado ensolarado no Rio de Janeiro para virar pai-corneteiro. Foi a um condomínio na Barra da Tijuca assistir ao desempenho do filho Emerson em um campeonato sub-8. Só que a vida de anônimo durou poucos passos.
Nem sempre foi assim para ele no Brasil. Depois de títulos, milhões de dólares e alguns problemas no Oriente Médio, retornou para o país como o “Milk Shake” desconhecido que o Flamengo contratara. Degrau a degrau, conquistou títulos e a fama de um atacante bom, decisivo e polêmico.
Coleciona adjetivo - bons e maus -, histórias - boas e más –, mas tem explicação e argumentos para tudo que lhe imputam. Certo ou errado, mocinho ou vilão, Emerson não evita se posicionar. E foi assim durante pouco mais de uma hora de entrevista no intervalo entre um jogo e outro do filho. Saída polêmica do Fluminense, fama de baladeiro, status de jogador decisivo, acusação de carro contrabandeado... Tudo ganhou a versão de Emerson para ser lida e interpretada.
GLOBOESPORTE.COM: Quando bateu o estalo de que, com a carreira consolidada no Oriente Médio e no Japão, era hora de se arriscar no futebol brasileiro?
Emerson: Saí do São Paulo com 18 anos. E fiquei mais de dez fora. Voltei com idade avançada para o Brasil porque tinha o desejo de também fazer sucesso no meu país. Tive passagem boa pelo Japão, morei seis anos e ganhei títulos. Fui para o Qatar e também ganhei. No Brasil, ninguém conhecia o meu trabalho. Graças ao Felipe, que está no Vasco, comecei a amadurecer a ideia de voltar ao Brasil. Tinha medo de voltar, tinha receio: “Caramba, acho que não vou conseguir jogar da maneira que joguei fora”. Felipe sempre nos treinos falava para relaxar. Mas eu tinha um pouquinho (de medo).
Momentos de Emerson desde a volta ao Brasil, em 2009 (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)
Voltar ao Brasil com quase 30 anos, bolso cheio e nenhuma fama no país não é das situações mais simples de lidar. O primeiro obstáculo foi no Flamengo. Como foi quebrar diferentes resistências em três clubes?
No Flamengo foi a pior experiência, porque de fato ninguém me conhecia. Tinha até algumas brincadeiras na rua: "Quem é esse milk shake? Quem é esse árabe aí? Flamengo não tem dinheiro e está apostando em qualquer um". Ouvi muito isso. Mas era verdade isso, não era mentira. Foi uma experiência não muito legal, mas comecei a treinar e a confiança veio: “Dá para render bem, lógico que dá”, pensei. Tive oportunidade de jogar contra o Fluminense na minha estreia e fiz um gol de cabeça.
Você até chorou...
No Flamengo foi a pior experiência, porque de fato ninguém me conhecia. Tinha até algumas brincadeiras na rua: "Quem é esse milk shake? Quem é esse árabe aí?". Ouvi muito isso"
Emerson
Antes daquilo, fiquei seis meses sem poder jogar no Qatar, porque tive um problema com a seleção do Qatar. Houve uma confusão e fiquei seis meses sem jogar, sem poder sair de lá porque tinha que resolver o contrato com eles. Passou um filme naquele momento (do primeiro gol). Só quem vive é que sabe. Queria jogar, estar perto da família também. Daí acabei me emocionando.
A chegada ao Fluminense também não foi muito tranquila por causa do seu passado rubro-negro.
É, por ter jogado no Flamengo houve até campanha na internet: “Flamenguista aqui, não”. Meu primeiro treino nas Laranjeiras tinha um grupo de torcedores... Acho que do Fluminense, que, quando fui ao campo dar um trote, a galera não aprovou, vaiou. Felizmente, joguei oito jogos e fiz sete gols. Aí virou Sheik é f..., né?
Por último, você abandonou o estado em que nasceu e apostou no Corinthians.
No Corinthians teve esse lance de ser carioca, fama de ser malandrão. E aí veio acompanhado daquele problema do Fluminense também, que eu tive com presidente (Peter Siemsem). Quando cheguei lá, o Andrés, ex-presidente, chamou o grupo. Eu nem tinha intimidade, mas ele reuniu os jogadores e disse: “Esse cara é meu, uma pessoa do bem e está aqui para ajudar vocês”. Aí já quebrou o clima, me deixou à vontade. Já conhecia alguns jogadores.
E a torcida?
A torcida do Corinthians é difícil. Como dizem... um bando de loucos (risos). São exigentes, querem títulos. A Libertadores era um grande sonho. A única maneira de conquistar essa galera é correndo para caramba e tenho esse perfil de entrega. Dentro de campo me transformo. E também esses dois títulos contribuíram. Hoje estamos em lua de mel. Não só comigo, mas com o time todo, a diretoria, o Tite. Na sala de embarque do aeroporto, senti a importância desses dois gols. No pouco contato que tive, vi que o tratamento é diferente, de ídolo.
Na sala de embarque do aeroporto, senti a importância desses dois gols. Vi que o tratamento é diferente, de ídolo"
Emerson
Recentemente, você foi visto no CT do Corinthians dando conselhos para um jogador evitar o excesso nas noitadas. Você tem esse lado conselheiro?
Acho que é a idade... É tudo muito fácil para jogador de futebol, principalmente, para quem joga em time grande como Corinthians, Flamengo, São Paulo. Todo mundo quer agradar a jogador de futebol porque o cara aparece na televisão, tem grana. É verdade, não é mentira. O dono da balada te coloca no camarote, apresenta as meninas. Eu apenas aconselhei um jogador que me perguntou se poderia dar problema no clube se soubessem que ele estava saindo direto.
E você não sai?
Eu cuido muito da minha vida, evito balada, faço as coisas na minha casa. Bebo minha cerveja na hora em que dá para beber, com meus amigos. Na hora em que tem de dormir, eu estou do lado da minha cama, não tenho que me expor, ir para estaciomento pegar carro, dirigir com uma ou duas cervejas na cabeça. Eu acho perigoso para minha vida e para a vida de outras pessoas. Eu prefiro fazer dentro de casa, é mais seguro.
Por quê?
Época do celular dificulta um pouco. Sempre tem alguém tirando uma foto. Botou o copo na boca já tem um malandro tirando uma foto. Com uma imagem o texto pode ser qualquer um: “Está embriagado”, “curtindo”, “baladeiro”. Depende de quem vai escrever. Importante tomar todos os cuidados.
Acha que tem fama de baladeiro?
Não, não tenho. Não tenho mesmo. Tenho fama de brigar dentro de campo, me transformar. Mas fora de campo sou tranquilo.
Por que todo mundo o considera um jogador polêmico?
Não tenho meias palavras. Fujo daquele padrão: “acho que tem que ganhar, fazer um bom jogo”. O que tem para falar, eu falo. O que acho que é certo ou errado, eu falo também. E as consequências sempre assumi.
Assim que acabou o jogo contra o Boca, você deu uma declaração dizendo que alguém havia errado contigo. Era um desabafo guardado e endereçado a quem?
A maior tristeza é essa. De ter saído pela cozinha, de não ter feito nada, e hoje eu poderia ser admirado pelo torcedor do Fluminense, e não sou porque um brincalhão criou histórias onde não tinha"
Emerson
Todo mundo sabe de quem estava falando... Estava falando do presidente do Fluminense. Acho que ficou bem claro que foi para ele. Minha saída do Fluminense foi uma cena muito triste na minha carreira. Muito triste. Não vou esquecer nunca. E foi bom ter passado por aquilo. Eu saí como um marginal. Como se eu tivesse tirado a vida de alguém, roubado alguém. Me esconderam. Eu tive que sair pela porta de trás do hotel, passei dentro de uma cozinha. Quantas vezes for necessário falar isso, eu vou falar. Quem sentiu fui eu. Quem foi enganado foi o torcedor do Fluminense. Eu saí muito triste. Passei na cozinha, a mulher estava fritando bife. Eu com a minha mochilinha, sabe? Não tinha nem tênis para ir embora. Foi o Conca que me emprestou o tênis dele. Me senti, aí sim, me senti um verdadeiro marginal. Eu não tinha feito nada. Absolutamente nada. Eu só cantei a música do Flamengo, tinha música do Vasco, tinha também o trecho da música do Fluminense. Não cantei sozinho, tinha um monte de gente. Essa história já contei milhões de vezes.
Mas por que você acha o clube optou por dispensá-lo?
Sério...não consigo te responder. Nunca fiz nada para o cara (Peter) e tinha acabado de participar de um título importante, né? De ter feito parte do grupo, eu sei da minha parcela de contribuição. Sei que ajudei. Eu não fui o cara até porque não teve o cara. Teve o Muricy com a comissão técnica dele, teve a direção com todas as dificuldades de encontrar um lugar bacana para a gente treinar, para a gente tomar banho. E superamos tudo isso. Quando tiveram essa atitude, não lembraram que eu levei mais de dez injeções para estar na final contra o Guarani. Não lembraram um monte de coisas e me mandaram embora.
Essa volta da Argentina ficou tão marcada assim na sua cabeça?
Entrei num carro e fui para o aeroporto com uma pessoa que eu nunca tinha visto na vida. Cara, eles não me encontraram no sinal. Eu saí de dentro da minha casa, com a minha família. O mínimo era me deixar dentro de casa com a minha família. Me trazer até o meu país. Me mandaram embora. Fiquei até com medo de ficar no hotel e me tirarem do quarto. Foi um filme que passou no momento da conquista da Libertadores e mandei o recado, sim. Não falei porque estava empolgadinho, porque fui campeão. Tem outras coisas que me empolgam mais, por exemplo, ver meu filho jogar futebol. Me fizeram mal. Me acusaram de coisas que não fiz. A música eu cantei, mas pelo amor de Deus, cara. Vou te dar um exemplo: no jogo contra o Santos, cheguei no vestiário, estava toda a direção, né? Falei: e agora, como é que faz para marcar o Neymar? Agora o presidente do Corinthians vai me mandar embora porque eu falei que o Neymar joga muito? Não. Joga não. Falei uma mentira, né?
Há quem atribua ao Fred sua saída. Comenta-se que vocês tiveram um atrito fora de campo por causa de mulher.
Isso é história de torcedor. É ridícula essa história de mulher. Nem tinha uma vida social com o Fred. Meu negócio com Fred era lá no treino. Fiquei triste na época com ele. Como líder, ele poderia ter me defendido. Como atleta, como amigo. Estávamos juntos no dia a dia. Fiquei triste com ele porque ele era o nosso líder. Achei que na época ele poderia interceder: “Não, não vai mandar (embora)”. Quando eu saí da reunião do quarto do presidente, que fui para ao meu quarto, estavam todos os jogadores. Todos. E ele não estava. Isso eu fiquei triste. A decisão não foi dele, ele não tinha esse poder. Os jogadores tentaram ajudar, mas a decisão foi do presidente. Ele me chamou, ele conversou comigo. O presidente e o diretor na época, Mário Bittencourt. A decisão foi dessas duas pessoas. Tinha uma liderança, sim, acho que tem ainda, dentro do grupo, com os jogadores.
Diziam que o Fred escalava o time na época do Enderson...
É, acho que alguma coisa pode ter acontecido. Não tenho muito como provar, mas todo mundo comentava. Os jogadores também.
Suas declarações demonstram frustração por ter saído tão mal do Fluminense. É verdade?
Sabe quantas vezes eu faltei a um treino no Flamengo, briguei com alguém? Nenhuma. Sabe quantas vezes eu briguei no Corinthians? Nenhuma. E no Fluminense, até a entrada do presidente, não tinha brigado com ninguém também"
Emerson
Se iniciava ali uma história muito bonita no Fluminense, de um título após 26 anos, gol do título, carinho que o torcedor tinha comigo. O que é mais triste hoje é que o cara que fez o gol do título do Fluminense após 26 anos não é lembrado com carinho. Se fosse uma verdade tudo que aconteceu, eu não estaria aqui hoje. Campeão brasileiro três vezes, Libertadores, Carioca. Não preciso falar do Fluminense. Mas o que deixa triste mesmo é o fato de o torcedor ter sido enganado. Essa é a frase. O torcedor foi enganado ao meu respeito. Hoje, poderia estar aqui no Rio de Janeiro vivendo na minha cidade, perto dos meus filhos, campeão da Libertadores, talvez com o Fluminense. Me tiraram de uma maneira feia, desrespeitosa. A maior tristeza é essa. De ter saído pela cozinha, de não ter feito nada, e hoje eu poderia ser admirado pelo torcedor do Fluminense, e não sou porque um brincalhão criou histórias onde não tinha.
O que você aprendeu desse episódio para ser herói de novo no Corinthians? Para não repetir isso, não sair pelos fundos, sem carinho do torcedor?
Sabe o que eu faço no Corinthians diferente do que fiz no Fluminense? Nada. O que eu fiz no Fluminense foram coisas boas. O que eu fiz no Flamengo, também. E o que eu faço no Corinthians, também. Eu não mudei absolutamente nada. Nada. Uma vírgula. Eu não mudei uma vírgula.
Você é um cara indisciplinado?
Se ligar no departamento de futebol do Corinthians, tenho pouco mais de um ano. Pergunta quantas vezes eu faltei. Uma. E porque tive de ir a uma audiência. Só faltei uma vez. Pergunta se alguém tem alguma coisa para falar. Liga no Flamengo e pergunta se tem alguma coisa para falar. Sabe quantas vezes eu faltei a um treino no Flamengo, briguei com alguém? Nenhuma. Sabe quantas vezes eu briguei no Corinthians? Nenhuma. E no Fluminense, até a entrada do presidente, não tinha brigado com ninguém também. Acho que era pessoal.
Pessoal por quê?
Por que eu que falei em 2009 que era flamenguista? É torcedor ou presidente? Tem que definir isso antes de assumir um cargo tão importante. E quando assumir tem que separar as coisas.
Emerson aproveitou a folga para ver o futebol dos filhos (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
Falando de Corinthians, da final. Logo depois do jogo, todo mundo ressaltava que você tem estrela. Como você vê isso?
Cheguei em 2009, né? São dois anos e alguma coisa. Um, dois, três, cinco títulos. Um Carioca, três Brasileiros e a Libertadores. Peguei o Flamengo, não vou falar os profissionais, sempre falo dos funcionários, as pessoas que dão o suporte. Eu peguei um Flamengo com Léo Moura, com Adriano, time todo abraçando o Andrade para ser campeão. Eu sou um cara que estou sempre no lugar certo. Eu colaboro, dou minha parcelinha. Depois no Fluminense com Deco, Muricy, Fred, Conca, com Belletti, que não jogou muito, mas era um líder. E outros. O Corinthians não tem isso. Fica difícil falar um ou dois. Tem que falar o nome de todo mundo, porque lá realmente não tem um ou outro que se destaca. O Corinthians tem trinta que correm. Não tem o astro do time. Talvez até o Tite poderia levar essa fama de ser o cara. Mas não tem vontade de levar. Acho que conquistei tudo isso por causa do trabalho, respeito e ambição. Saber por que ganha, por que perde. Merecer as coisas. Hoje eu acredito muito em merecimento. Nada cai do céu. Você trabalha, se dedica. Aí você conta com talento individual de um ou de outro. Mas é trabalho.
Sua confiança aumenta em jogos decisivos?
Eu adoro esses jogos. Não sei o que acontece. Gosto da pressão, do desafio, gosto de saber que um gol pode marcar história, como foi no Fluminense, como foi contra o Santos na semi. E contra o Boca lá, contra o Boca aqui. São jogos que eu curto para caramba. E também a cabeça, cabeça no lugar. Me perguntaram da pressão de jogar na Bombonera. Com todo o respeito, se pudessem sair 40 mil, 50 mil corintianos do Brasil para lotar a Bombonera, eu preferia que o outro jogo da final fosse lá também. Pô, maior barato, estava lotado o estádio. Assim como foi o Pacaembu. A festa ficou meio que parecida. Mas, se o segundo jogo fosse lá, também ia estar amarradão. Eu gosto pra caramba.
Se pudessem sair 40 mil, 50 mil corintianos do Brasil para lotar a Bombonera, eu preferia que o outro jogo da final fosse lá também. Pô, maior barato"
Emerson
Como foi o momento do gol? Sabia que ia fazer o gol?
Na véspera, eu deitei e estava falando com um amigo de Nova Iguaçu no telefone. E daí ele começou a lembrar da infância, das derrotas. Passava pelo buraco para não pagar o trem, não tinha o que comer. Conversas de quem já passou dificuldade. Aí falei: “E tu não sabe da maior. Estou achando que amanhã eu vou fazer um gol”. A gente fala isso para amigos. Não pensei em dois, pensei em um. Não ia falar para a imprensa senão iriam me cobrar se desse errado, né?
O que vai fazer com o carro de melhor em campo na final da Libertadores?
Chamei o Tite e combinei: ele vai pegar o carro dele e guardar como lembrança, mas doar o valor. Vou entregar meu carro para o Edu vender. Vamos juntar o dinheiro dos dois e dividir entre os funcionários. Faxineiros, rouparia, cozinha. Ficou definido assim. Será um bônus para eles.
E Mundial?
O carro de melhor jogador do Mundial? (risos). Não sei o que pode acontecer até lá. Espero estar vivo. Mas quero chegar ao Mundial com o Corinthians. Morei no Japão tanto tempo (seis anos) e agora, se estiver no Corinthians, estou na expectativa do reencontro. Temos que reforçar agora porque há alguns jogadores saindo. Castán e Willian já foram, o Alex também deve ir.
Você também tem ofertas. A proposta da China ameaça seu futuro no Corinthians?
Não vou mudar o discurso de quando saí do Flamengo. Dinheiro sempre vai seduzir, principalmente quando se tem filhos, família e contas a pagar. Futebol para mim dura mais quatro anos, depois tenho mais 40 para viver. Ano passado tive proposta e fiquei pelos meus filhos. Agora vou ficar pelo Corinthians.
Ano passado tive proposta e fiquei pelos meus filhos. Agora vou ficar pelo Corinthians"
Emerson
Mas em 2009, quando saiu do Flamengo, você tinha um salário relativamente baixo. Agora, a situação seria diferente. Você tem status e salário de astro no Corinthians. Sairia por quê?
Não sou e nem tenho salário de astro, mas a ideia é boa, hein? Quando saí do Qatar para voltar ao Brasil em 2009, paguei minha multa. Precisava recolocar esse dinheiro na conta.
Você pode jogar na Seleção?
Posso e muito. Tenho passaporte do Qatar, mas não podem me convocar lá porque já atuei na seleção brasileira sub-20.
Mas você se sente velho para ser lembrado pelo Mano Menezes?
Só estou velho em época de Olimpíadas (risos). Mas é difícil falar de Seleção porque parece propaganda. Importa o que você produz em campo. Me sinto bem, muito bem.
Mesma coisa que com 25 anos?
Ih, faz tanto tempo que não lembro (risos). Mas me sinto ótimo.
Pensa em aposentadoria?
Não, mas não será em breve. Quero um título paulista. Tenho um pelo São Paulo, em 1998, mas joguei só dois jogos.
Há quem conteste seu status de campeão brasileiro em 2009 pelo Flamengo porque saiu do clube no meio da competição. Concorda?
O Flamengo ganhou com diferença de quantos pontos para o segundo colocado (Inter)? Um. Então tira só o meu gol contra o Botafogo (empate por 2 a 2) e não tem mais título.
Você admite que se transforma em campo. Torna-se catimbeiro, malandro. Por que tanta mudança?
O Flamengo ganhou (o Campeonato Brasileiro de 2009) com diferença de quantos pontos para o segundo colocado (Inter)? Um. Então tira só o meu gol contra o Botafogo (empate por 2 a 2) e não tem mais título"
Emerson
O torcedor e algumas pessoas que assistem aos jogos, que me veem correndo, dando carrinho. Isso é o meu trabalho. É de onde tiro o sustento da minha família, o meu. E ali eu tenho que botar para quebrar mesmo. As pessoas acabam associando uma coisa com a outra. Minha vida fora de campo é completamente diferente. Mas eu sou um cara que usa a experiência que tem para tirar proveito, atenção de um zagueiro, desconcentrar o cara, cavar uma falta. Chegar um pouco mais forte num momento, depois deixá-lo bater para levar o cartão. Essas coisas que fazem parte do jogo.
Onde você aprendeu isso? Sua carreira foi praticamente toda no Japão e no Oriente Médio, onde o futebol é mais conhecido pela ingenuidade.
Ah, na minha cidade, Nova Iguaçu. Lá das peladas. E isso tem em pelada. Não gosto de perder. Gosto do sabor da vitória. Odeio perder, fico nervoso, não gosto. Perder faz parte do jogo, mas eu sou fascinado por vitória. Adoro marcar história como foi em 2009, no Carioca. Assim que eu cheguei, fui campeão carioca. Poucos sabem que fui campeão carioca pelo Flamengo. Vinha de um momento difícil na minha carreira e em dois meses fui campeão carioca.
Tem uma ética na catimba? Vale ofender a mulher, a mãe?
Sangue quente, cabeça fervendo, uns e outros perdem a noção do que falam. Acho que racismo, essas paradas assim, eu não curto. Mas provocação do atleta acho que vale.
Emerson com o filho Henry e a bola: "Isso aqui é meu trabalho" (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
Contra o Boca você chegou a dar a cara para bater ao zagueiro. O que vocês falaram?
Ele falou que ia me matar. Eu falei: “Tu é muito bobo, né? Como é que tu vai me matar? Vai pegar uma arma, vai me matar na frente de todo mundo. Não tem nem câmera aqui, né? Quase ninguém está vendo”. Bobo, né? Aí fiquei sacaneando, chamando de boludo (idiota em português). Ele caiu na pilha legal. Ele se desconcentrou. E o segundo gol é prova disso. Foi muito rápido, mas ele poderia estar mais fechado em mim. Se está mais atento, ele poderia chegar. Ele estava desconcentrado. Aí já era.
Você acha que é um cara chato dentro do campo?
Sou. Eu não dou mole. Quer respeito? Me respeita. Não quer apanhar? Não bate. Toda ação tem uma reação. Procuro ser sempre leal. Mas, quando entendo que está faltando lealdade do outro lado, aí entendo que dá o direito de reagir como tal. É dessa maneira que penso.
Fora de campo, volta e meia sai alguma coisa polêmica sobre você. Como você explica isso, já que se diz um jogador família?
Me acusaram de ter envolvimento com uma quadrilha de carros. Na boa? É pegadinha isso, né? Eu? Não preciso disso. Com todo o respeito. Só comprei um carro e meu nome bombou aí"
Emerson
Vamos lá. Quinta-feira, marcamos uma entrevista coletiva em casa e saiu que o oficial de Justiça foi me buscar. O oficial de Justiça foi me entregar uma intimação de uma senhora de 80 anos que está me processando porque ouviu uma música alta na minha casa. Outra coisa: me acusaram de ter envolvimento com uma quadrilha de carros. Na boa? É pegadinha isso, né? Eu? Não preciso disso. Com todo o respeito. Só comprei um carro e meu nome bombou aí. Só comprei um carro. Não preciso disso, tenho família. Na época em que passava fome, tinha vários amigos, coleguinhas do bairro que gostavam de fazer coisa errada, e não fiz. Na época em que não tinha o que comer! Hoje tenho casa bonita, carro bonito, só como em restaurante bom. Posso ter o melhor carro. Vou me envolver num negócio desses? Fica meio louco pensar nisso. A pessoa que trouxe o carro estava envolvida em um monte de coisas. Só comprei o carro novo e paguei pelo carro.
Ver seu nome envolvido em páginas policiais dessa forma tira o seu sono? De ser acusado de comprar um carro contrabandeado?
De jeito nenhum. Só tem um motivo para não ser. Sou inocente. Consigo buscar meus filhos na escola, durmo com meus filhos todos os dias. Eu trabalho todos os dias. Isso não influencia em nada na minha vida porque não é verdade. Não existe isso. Não existe. Nunca me envolveria numa coisa dessas. É o que passo para os meus filhos, meus sobrinhos. Não preciso disso. Só que às vezes você acaba acreditando, se envolvendo com pessoas, e não vem escrito na testa que é bandido, é safado.
E foi o que aconteceu neste caso?
Não sei. Realmente eu estava em casa, com a minha família. Quando comprei os carros, foram levados na minha casa, na minha porta. O carro todo novinho, plástico, sem placa. Eu não fui em loja, não conheci ninguém, não sei quem é quem. Aí um cara de Israel falou no meu nome numa gravação. O que eu tenho a ver com isso? Trabalho desde os 14 anos. Minha vida é simples. Nova Iguaçu-São Paulo, São Paulo-Japão, Japão-Qatar, Qatar-França, França-Qatar, Qatar-Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-Dubai, Dubai-Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-São Paulo. Essa é a minha vida. Trabalho. Eu só trabalho. Qualquer outra coisa que alguém inventar ou falar não é verdade. E isso aqui ó (mostra uma bola) é meu trabalho. Bolinha.