Por mais que possa ser dito o contrário, é inegável que o mais roxo dos corintianos não tira um time da cabeça desde o último dia 4, quando faturou a Libertadores. Trata-se, obviamente, do inglês Chelsea, possível adversário do Timão na final do Mundial de Clubes, em dezembro. O que este torcedor pode não saber é que um homônimo do atual campeão europeu pode cruzar o caminho alvinegro rumo ao tão sonhado bi mundial. De Gana, o Berekum Chelsea disputa a Champions League africana pela primeira vez e, após uma boa largada (com uma vitória e um empate fora de casa), briga por uma vaga no Japão, mas com os pés no chão.
- Ainda estamos muito longe do Mundial. Este Chelsea tem jogadores jovens. Então, pensamos jogo por jogo e não vamos falar de Corinthians ou qualquer outro time por enquanto. Nossa meta de momento é bem clara: chegar às semifinais da Champions. É lógico que será fantástico enfrentar o outro Chelsea. Mas prefiro não ir tão longe ainda, apesar de tudo ser possível no futebol - disse o treinador da equipe, o holandês Hans Van der Pluijm, desde novembro no Chelsea e há 16 anos em Gana.
Clube mudou de nome quatro anos após ser fundado por torcedores do Chelsea (Reprodução / Site Oficial)
Logo, a palavra de ordem do Chelsea (o de Gana) é humildade. E isto tem explicação. Com um investimento que passa longe dos milhões gastos toda temporada pelo xará britânico, os africanos têm uma extensa lista de “contras”: apenas 12 anos de história; pouca tradição no futebol local; vêm de uma cidade sem peso (cerca de sete mil vivem em Berekum); e não há um suporte financeiro - muito diferente do Chelsea rico, que tem as contas pagas pelo russo Roman Abramovich.
Passo a passo até o Japão
Agyemang é orientado por Van der Pluijm: holandês
vive há 16 anos em Gana (Reprodução / Site Oficial)
Sem investimento e tradição, a solução foi trabalhar. Os primeiros frutos saíram na temporada 2010/11, com a inédita conquista da Premier League de Gana, e - de brinde - a classificação para a Champions League, a versão africana da Libertadores, que dá vaga ao Mundial. O sorteio não foi lá muito gentil com o Chelsea, que parou no mesmo grupo do Mazembe, algoz do Inter no Mundial de 2010, e do Al Ahly, terceiro colocado da competição internacional em 2006.
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Dentro de campo, o que se vê é a equipe de Gana com personalidade: a estreia foi com uma vitória por 3 a 2 dentro de casa sobre o Zamalek, do Egito. Em seguida, no último dia 22, eles arrancaram um empate contra o favorito Mazembe, no Congo, o que muda um poucou as coisas e trouxe o deixou um pouco de favoritismo em Berekum.
- Observando este espírito de briga do Berekum Chelsea, eu tenho a forte convicção que eles vão estar na final e não seria surpresa alguma se eles encarassem os xarás do Chelsea no Mundial de Clubes. Eles têm apenas que ajeitar a defesa e garantir que o Clottey vai manter sua forma durante o torneio - diz o jornalista Kent Mensah, da versão de Gana do site “Goal.com”, em referência ao atacante Emmanuel Clottey, que marcou todos os cinco gols do time na Champions até agora.
Clottey é o artilheiro do Chelsea: ele marcou os cinco gols do time na Champions (Reprodução / Site Oficial)
Com oito times divididos em dois grupos com turno e returno, a Champions da África tem um regulamento simples. Avançam os dois primeiros de cada chave, que se cruzam nas semis, antes da grande decisão.
A situação de momento do grupo do Chelsea a seguinte: o Al Ahly é o líder, com seis pontos, enquanto a equipe de Gana aparece logo em seguida, com quatro. O Mazembe tem um único ponto, resultado do empate do dia 22, e o Zamalek amarga a lanterna. As semifinais acontecem entre os dias 5 e 21 de outubro, e as finais, entre 2 e 11 de novembro.
O Semereka virou Chelsea
Capitão Owusu Jackson recebe taça do presidente
de Gana (Foto: Reprodução / Site Oficial)
O clube foi fundado em 2000 com o nome de Semereka FC por dois nativos de Berekum: Emmanuel Kyeremeh e Obed Nana Nketiah. Torcedores fanáticos do Chelsea da Inglaterra, os donos decidiram, em 2004, que era hora de mudar e se inspiraram no famoso xará britânico para rebatizarem o clube, além de adotarem o nome da cidade.
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ingressos para o Mundial de Clubes
O intuito, segundo os fundadores, era criar empregos para jovens da cidade. O projeto deu certo e, inicialmente, 75% do time era formado por locais de Berekun. As coisas, entretanto, mudaram ao longo desses últimos 12 anos, o time atingiu a elite e apenas um jogador da equipe original sobreviveu às ações do tempo: Jackson Owusu. Hoje, apenas quatro atletas do elenco atual são de Berekum.
Gana se veste de azul
Os maiores campeões da primeira divisão local são Asante Kotoko e Hearts of Oak, com 22 e 20 títulos, respectivamente, e o Chelsea passa longe dos dois maiores times do país no quesito tradição. O Coronation Park, acanhado estádio do clube (com capacidade para 10 mil torcedores), também não inspira medo nos adversários. Sem grandes rivais, a jovem equipe de Hans Van der Pluijm tem a simpatia do resto de Gana e pode-se dizer que representa o país na competição continental.
- Viemos de uma cidade pequena de apenas sete mil habitantes. Mas eu consigo ver toda a população de Gana torcendo pelo Chelsea - diz o treinador.
Chelsea em ação pela Champions: time tem a simpatia dos rivais em Gana (Reprodução / Site Oficial)
Assim como falta torcida e tradição, o clube também não pode se gabar de ser uma potência financeira, como no caso do rico xará inglês. Sem um patrocinador, o Chelsea tem que se virar com um orçamento limitado e a aposta é na filosofia de um elenco humilde, mas com salários em dia.
- Não temos patrocinadores. Temos apenas uma pessoa que controla a equipe e buscamos ainda uma parceria. Mas não há problema quanto a isso. Pagamos tudo em dia.
O próximo compromisso do Chelsea pela Champions League será decisivo. O time de Van der Pluijm vai ao Egito duelar contra o líder do grupo, Al Ahly, onde uma vitória pode ser um passo e tanto para as semifinais. No Grupo A, o Espérance, time da Tunísia que disputou o último Mundial, lidera com seis pontos, seguido do compatriota Étoile du Sahel, com 4. Sunshine Stars, da Nigéria, vem em seguida (1 ponto), enquanto o Chlef, da Algéria, amarga a lanterna da chave.